O melhor detergente é a luz do sol
VALÉRIA DEL CUETO: Até outro dia tinha mantido a promessa de chorar preferencialmente por coisas boas. Tirando a tristeza, o que me faz chorar com mais facilidade é a raiva
O melhor detergente é a luz do sol

(Ch)orando mando essa dor embora
Texto e foto de Valéria del Cueto
A casa no meio do mundo é de Oxum. Como eu, ela chora. Vejo fios de suas lágrimas nas paredes azulejadas. Sinto o piso molhado quando caminho descalço em direção as janelas para fechá-las. Hoje isso é um perigo. Um copo escorregou do escorredor e se esfacelou no chão da sala.
A única maneira de secar o pranto acumulado entre as paredes é impedindo a entrada da umidade carregada pelo ar puro do rio que serpenteia ao lado da garagem no andar de baixo.
É como meu reservatório de choração. Nada de conter, tem que esvaziar. Prefiro quando consigo abrir o peito e deixar o choro desabar como cachoeira. Pronto, passou. Mas tem lamento que é de corixo. Vem mansinho, vai longe passeando entre a vegetação ribeirinha e tentando dar uma paradinha. É pranto de remanso. A cada música, lembrança, pensamento…
Esse é aquele que a lágrima fica pendurada e desce devagar, fazendo cócegas no rosto. Até outro dia tinha mantido a promessa de chorar preferencialmente por coisas boas.
Tirando a tristeza, o que me faz chorar com mais facilidade é a raiva. É uma reação imediata. Nem estou “chorando” e as lágrimas já começam a rolar abusadas e desobedientes. Como dizia Carol, chefe de gabinete de Luizinho Soares e escudeira de vida dele, espantada: “E você nem faz careta. Não fica com cara de choro”!
Pois é. O “X” da questão é o que vem depois. Pra mim, esse rompimento de represa é um sinal de que há o risco de virar bicho. Para evitar esse processo tenho corrido de demandas. Deve ser a tal sabedoria da idade. Funciona até a terceira página. Daí pra frente…
Estou chorando. Me prometi uma crônica quinzenal. A meus editores e leitores. Para isso, insisto, logo, penso… E acabo me enroscando porque apesar de ter tanto a dizer (não me pergunte como, depois dessas centenas de textos publicados) não consigo organizar de forma clara as ideias.
Ao som do violão payador de Noel Guarany sigo no ritmo da vassoura com que (esqueci que o piso está chorando) puxo pra fora de casa a poeira em pleno domingo tentando limpar a alma e organizar a crônica. Sou péssima na função, mas gosto de fazer a vassoura riscar o chão chiando e dançando ao ritmo da milonga, no momento.
Para tudo! Corta o plano para quando mal imagino a poeira sufocante e quente da terra arrasada de Gaza. Para não abrir as janelas (mais umidade porque meu choro já começou) corro pra porta. Do lado de fora o vento e os passarinhos. Os que, certamente, não passeiam assanhados entre os escombros provocados pelas mãos dos homens da guerra. E ele rola…
Pra escrevinhar essa crônica meu refúgio é ao lado dela, a queda d’água. Um desvio do rio que já dialogou com você, leitor, em outras ocasiões. Oxum canta pra mim.
Sinceramente, entendo o todo, mas não alcanço os pormenores que fazem alguém achar que tem direito adquirido a qualquer tipo de morticínio. Seja lá quem for. Penso nas mães vendo seus filhos transformados em máquinas assassinas a disposição da sanha de políticos desequilibrados.
Não estou preparada para represar as lágrimas de impotência e desalento diante de tanto horror. Nelas, derramo parte da dor que sinto por quem sofre, os que realmente se esforçam para tentar evitar a barbárie e todos os que, como podem, se manifestam mundo afora pela causa palestina, no caso.
As lágrimas de raiva e revolta vão para aqueles que, por conveniência e oportunismo, passam pano para o espetáculo pavoroso que o mundo acompanha atônito em tempo real.
Aos insanos que promovem e incentivam mais um genocídio com reflexos planetários um alerta divino. Está tudo lá anotado no caderninho de Deus. Aquele de Amor. A volta, infelizmente, virá. É a lei do retorno em looping universal.
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Não sei onde enquandrar” do SEM FIM… delcueto.wordpress.com


O melhor detergente é a luz do sol
Centro Cultural Casa do Centro, do Zé Medeiros e Adia Borges, fecha as portas em Cuiabá. Desmonte da Cultura avança na capital de Mato Grosso

O fotógrafo José Medeiros e sua esposa Adia Borges não conseguiram mais resistir. A sexta-feira, 3 de setembro de 2025, representou uma data trágica para o Centro Cultural Casa do Centro que eles comandavam na região da Praça da Mandioca, em Cuiabá. Mesmo que com uma noite festiva, marcada pelo som caloroso da banda Calorosa, neste 3 setembro a Casa do Centro, como o equilibrista daquela história, pediu licença – e despencou. Fechou suas portas. Partiu para um outro plano.
Manter espaços culturais como a Casa do Centro se tornou inviável em um Estado tão rico, tão cheio de grana, mas que prioriza investir seus recursos em rodeios e cavalgadas no interior, ou na construção em Cuiabá de um Parque Novo Mato Grosso, espaço preferencial para corridas de carros e de karts, e o desfile garboso de uma elite endinheirada. A lógica da Cultura no Estado, pelo que vejo, é a lógica do parque de diversão e, com isso, os projetos de diversidade como a Casa do Centro, que abria sua portas para mostras de arte, bandas e jovens cantores mato-grossenses, performances culturais e lançamentos de livros e muitos sonhos artísticos, parece que acabam ficando relegados ao último plano.
Cadê os editais planejados para estimular e multiplicar centros de cultura, não só em Cuiabá mas em todas as regiões do Estado? A cultura em Mato Grosso virou uma espécie de garimpo em que o sertanejo parece que sempre vale mais pelos votos que é capaz de multiplicar.
Curioso é que o gabinete do parlamentar conhecido como “deputado da Cultura’ ostenta nas suas paredes belos e estilosos quadros do consagrado artista que é o fotógrafo Zé Medeiros. O gesto deveria sinalizar apreço pelas artes e respeito à memória cultural de Mato Grosso. No entanto, quando o assunto era fortalecer espaços culturais que sobrevivem a duras penas, como o Centro Cultural Casa do Centro, no coração do Centro Histórico de Cuiabá, o apoio não veio. As palavras e promessas do deputado Alberto Machado (UB), o Beto Dois a Um, que foi um artista musical antes de se tornar um político da situação, ficaram perdidas em algum espaço recôndito entre a Assembleia Legislativa e o Palácio Paiaguás.
O contraste entre a imagem cuidadosamente exibida no gabinete do político midiático e a ausência de políticas concretas para garantir a sobrevivência de instituições culturais revela uma contradição dolorosa. Não basta adornar paredes com obras de artistas locais: é preciso assegurar que espaços de resistência e de produção cultural tenham condições de existir e se multiplicarem. E todo mundo sabe da ascendência que Beto Dois a Um tem sobre os centros de poder neste Estado, espaços em que se definem os rumos dos investimentos culturais neste território mato-grossense.
A Casa do Centro, registre-se, lutou bravamente para manter suas portas abertas, oferecendo à capital e a todo Mato Grosso um espaço de memória, arte e convivência. O silêncio e a falta de ação diante da tocante fragilidade com que a Casa do Centro procurava dar concretude a suas utópicas propostas de aggiornamento, expõem o vazio do discurso oficial.
ENOCK CAVALCANTI, 72, é jornalista e editor do blogue PÁGINA DO ENOCK, que ele edita a partir de Cuiabá, Mato Grosso, desde o ano de 2009

Banda Calorosa, junto com Paulo Monarco e DJ Muluc, animou a noitada de despedida da Casa do Centro. 3 de setembro de 2025
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