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Alguma coisa está fora da ordem

Por que Henrique Meirelles não é alvo da Operação Greenfield? Mais uma vez, em ação aparentemente partidarizada, a PF só deu destaque em sua articulação com mídia, a alvos ligados ao PT

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Alguma coisa está fora da ordem

Por que Henrique Meirelles não é alvo da Operação Greenfield?

Todos os presos temporariamente e os alvos que ganharam espaço na imprensa são ligados ao PT. Mas e os outras centenas de mandados? E os que não estão na mira?
Jornal GGN – A nova operação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, que investiga a “gestão temerária e fraudulenta” de quatro dos maiores fundos de pensão do país – a Funcef, Petros, Previ e Postalis, traz algumas lacunas entre os mais de cem investigados no esquema, como a exclusão do nome de Henrique Meirelles, que comandou um dos maiores grupos nas mãos dos investigadores – a J&F.
O caso Greenfield impõe, direta ou indiretamente, uma devassa em gigantes do mercado brasileiro, desde os bancos Santander e Bradesco, até holdings e grupos controladores de outras dezenas de empresas.
Para coletar provas, os investigadores visitaram as residências e sedes das empresas, totalizando 106 mandados de busca e apreensão. Mais 28 empresários e possíveis envolvidos tiveram que prestar depoimento.
E foram presos temporariamente cinco: Carlos Augusto Borges e Maurício Marcellini Pereira, atuais diretores de participações e de investimentos da Funcef; o ex-presidente da Funcef e filiado ao PT, Carlos Alberto Caeser; o ex-conselheiro da entidade Demósthenes Marques, e Humberto Pires Grault Vianna, também ligado ao PT.
Mas entre os alvos da Greenfield, chama a atenção que a mira dos procuradores da República e dos delegados estava em ex-diretores, ex-presidentes, representantes e sócios das empresas investigadas, sobretudo possiveis envolvidos com o Partido dos Trabalhadores.
Segundo a PF, foram identificados déficits bilionários nos fundos de pensão, com a aplicação de investimentos de forma fraudulenta pelos fundos da Caixa Econômica, da Petrobras, do Banco do Brasil, dos Correios e do grupo J&F, por meio dos FIPs (Fundos de Investimentos em Participações).
Nesta segunda (05), junto com a totalidade de 147 mandados judiciais expedidos, foram apreendidos um aproximado de 350 mil reais, 100 mil dólares e 50 mil euros em dinheiro vivo, além de obras de arte, joias e veículos de luxo.
Nesse emaranhado de desdobramentos e dados novos da investigação, a imprensa trouxe amplo destaque ao depoimento de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, aos delegados e a busca e apreensão na residência do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Mas estes não são o foco dos procuradores e da PF na Operação Greenfield, que realizou outras centenas de buscas junto a casas de ex-executivos da Postalis, Funcef, Petros e Previ.
Ainda que sem informações sobre o grau de envolvimento ou não dos imputados nesta primeira fase de investigações, a equipe da 10ª Vara Federal de Brasília, onde tramita o processo nas mãos do juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, livrou o atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Meirelles presidiu o Conselho de Administração da J&F, a holding controladora de várias empresas e que é uma das principais miras dessa investigação. Mas seu nome não foi citado nos autos para prestar depoimento ou buscas e apreensões.
Do grupo de peso na economia, só foram convocados os irmãos Joesley Mendonça Batista e Wesley Mendonça Batista, ambos apontados como responsáveis pelo grupo J&F. Entretanto, a passagem de ambos pelas empresas ocorreu sobretudo na frigorífica JBS, uma das empresas da holding, e que também controla outras marcas de carnes bovina, suína, ovina e de frango.
A real mira dos investigadores – que é buscar saber se houve desvios nos fundos de pensão – estaria na gestão do grupo controlador da JBS, que é a J&F. Apesar de Wesley e Joesley serem sócios controladores, a presidência do grupo também deveria ser convocada, a exemplo dos outros executivos alvos da Operação, que ocuparam os cargos nas respectivas empresas ou fundos de pensão entre os anos de 2007 até hoje.
Organograma J&F
Responsável por desenhar a estratégia mundial, o atual ministro de Michel Temer assumiu o posto maior da gerência da J&F Investimentos em março de 2012. Dois meses depois, Meirelles anunciava que o grupo compraria a Delta Construções, empresa construtora que faturou 2,8 bilhões de reais em 2010 e estava envolvida em casos de corrupção na época. Mas a holding acabou desistindo da aquisição da empresa, justificando “crise de confiança”.
Em meio às notícias da suposta corrupção, a holding chegou a informar que o seu então presidente do conselho consultivo não teria “cargo ou função na gestão da empresa de construção e que o controle da gestão da Delta não envolve pagamento aos seus antigos controladores”.
Na época que assumiu a Presidência da J&F, a holding detinha o controle do banco Original, da fabricante de higiene e produtos de limpeza pessoal Flora, da fabricante de produtos lácteos Vigor e da empresa de papel e celulose Eldorado – uma das principais miras, quatro anos depois. Naquele período, faturamento anual do grupo superava os R$ 55 bilhões.
Mas para justificar que do grupo apenas tenham sido alvos Joesley e Wesley Mendonça Batista, os investigadores afirmaram que ambos foram responsáveis pela fusão entre as empresas Florestal e Eldorado, além da criação do Fundo de Investimentos Florestal, “beneficiando-se do aporte de capital de FUNCEF e PETROS, com prejuízo financeiros aos referidos Fundos de Pensão”.
O FIP Florestal Brasil foi constituído em 2009, entrando posteriormente como investidores financeiros a Funcef e Petros. A divisão estrutural do grupo leva como cotistas a holding J&F, que controla a JBS, e a MCL, cada uma com 25% de participação. Os fundos de pensão detinham outros 25% cada um. Na linha de trazer maiores explicações sobre o fundo de investimentos, Carlos Rosa, diretor financeiro da Florestal também deveria figurar entre os alvos da Greenfield. Mas, assim, como Meirelles, não aparece.
Ainda, uma reportagem de 2012 mostra que o então presidente do conselho da J&F, Henrique Meirelles, era o porta-voz do grupo na expansão das indústrias pelo Brasil, com o objetivo à época de alcançar a meta de produção de cinco milhões do grupo FIP Florestal. Em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, o grupo introduzia sob a gestão de Meirelles a maior fábrica de celulose em linha única do mundo.
Mas nas 719 páginas de investigações da Justiça Federal de Brasília, não há uma só menção a Meirelles. (Veja os autos anexos na íntegra)
Abaixo, todos os alvos da Operação Greenfield:

  1. Adilson Florêncio da Costa (ex-diretor do Postalis),
  2. Alexei Prestechensky (ex-presidente do Postalis),
  3. Antonio Bráulio de Carvalho (ex-diretor da Funcef),
  4. Antônio Geraldo Queiroz Nogueira (diretor-executivo da CBTD)
  5. Carlos Alberto Caser (ex-presidente da Funcef),
  6. Carlos Augusto Borges (diretor da Funcef),
  7. Carlos Fernando Costa (ex-presidente da Petros),
  8. Carlos Frederico Guerra Andrade (diretor jurídico da OAS),
  9. Carlos Henrique Figueiredo (sócio e diretor da Multiner),
  10. Cláudia Regina Kanan Diniz (gerente-sénior da Deloitte Touche Tohmatsu),
  11. Cristiano Kok (sócio da Engevix, beneficiária do Fip Cevix),
  12. Demósthenes Marques (ex-diretor da Funcef),
  13. Eduardo Montalban (diretor da Planner, que administra do FIP Multiner),
  14. Eduardo Costa Vaz Musa (ex-diretor da Sete Brasil, beneficiária do FIP Sondas).
  15. Eugênio Emílio Stalbi (presidente da Gradiente),
  16. Fábio Miamoni Gonçalves (ex-coordenador da Funcef),
  17. Gerson de Melo Almada (ex-vice presidente da Engevix),
  18. Guilherme Narciso de Lacerda (ex-presidente da Funcef),
  19. Gustavo Nunes da Silva Rocha (diretor-presidente da Invejar),
  20. Humberto Bezerril Gargiulo (Sócio da Upside Finanças),
  21. Humberto Pires Grault Viana de Lima (Funcionário da Petros),
  22. João Carlos de Medeiros Ferraz (ex-presidente da Sete Brasil),
  23. Joesley Mendonça Batista (responsável pela J&F Investimentos),
  24. Jorge Almicar Boueri da Rocha (sócio e diretor da Multiner),
  25. Léo Pinheiro (dono da OAS),
  26. José Antônio Sobrinho (sócio da Engevix),
  27. José Carlos Alonso Gonçalves (ex-diretor da Funcef),
  28. José de Carvalho Júnior (sócio da da Deloitte Touche Tohmatsu),
  29. Júlio Ferreira Cardozo Júnior (ex-diretor da Vitória Asset Management),
  30. Luiz Carlos Fernandes Afonso (ex-presidente da Petros),
  31. Luiz Philippe Peres Torelly (ex-presidente da Funcef),
  32. Manuela Cristina Lemos Marçal (ex-gerente da Petros),
  33. Maurício Marcellini Pereira (ex-diretor da Funcef),
  34. Newton Carneiro da Cunha (ex-diretor da Funcef),
  35. Pieter Jacobus Marie Freriks (sócio da da Deloitte Touche Tohmatsu),
  36. Sérgio Ricardo da Silva Rosa (ex-presidente da Previ),
  37. Telmo Tonolli (presidente da OAS),
  38. Wagner Pinheiro de Oliveira (ex-presidente da Petros),
  39. Walter Torres Júnior (empresário do grupo W-Torre),
  40. Wesley Mendonça Batista (irmão de Joesley e também responsável pelo grupo J&F).
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Alguma coisa está fora da ordem

LÚDIO CABRAL: 5 mil vidas perdidas para a covid em Mato Grosso

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CINCO MIL VIDAS

Lúdio Cabral*

Cinco mil vidas perdidas. Esse é o triste número que Mato Grosso alcança hoje, dia 26 de janeiro de 2021, em decorrência da pandemia da covid-19.

Cada um de nós, mato-grossenses, convivemos com a dor pela perda de alguém para essa doença. Todos nós perdemos pessoas conhecidas, amigos ou alguém da nossa família.

A pandemia em Mato Grosso foi mais dolorosa que na maioria dos estados brasileiros e o fato de termos uma população pequena dificulta enxergarmos com clareza a gravidade do que enfrentamos até aqui.

A taxa de mortalidade por covid-19 na população mato-grossense, de 141,6 mortes por 100 mil habitantes, é a 4ª maior entre os estados brasileiros, inferior apenas aos estados do Amazonas (171,9), Rio de Janeiro (166,2) e ao Distrito Federal (147,0). O número de mortes em Mato Grosso foi, proporcionalmente, quase 40% superior ao número de mortes em todo o Brasil. Significa dizer que se o Brasil apresentasse a taxa de mortalidade observada em Mato Grosso, alcançaríamos hoje a marca de 300.000 vidas perdidas para a covid-19 no país.

Lembram do discurso que ouvimos muito no início da pandemia? De que Mato Grosso tinha uma população pequena, uma densidade populacional baixa, era abençoado pelo clima quente e que, por isso, teríamos poucos casos de covid-19 entre nós?

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Lembram do posicionamento oficial do governador de Mato Grosso no início da pandemia, de que o nosso estado não teria mais do que 4.000 pessoas infectadas pelo novo coronavírus?

Infelizmente, a realidade desmentiu o negacionismo oficial e oficioso em nosso estado. Não sem muita dor. O sistema estadual de saúde não foi preparado de forma adequada. Os governos negligenciaram a necessidade de isolamento social rigoroso em momentos cruciais e acabaram transmitindo uma mensagem irresponsável à população. O resultado disso tudo foram vidas perdidas.

Ao mesmo tempo, o Mato Grosso do sistema de saúde mal preparado para enfrentar a pandemia foi o estado campeão nacional em crescimento econômico no ano de 2020. Isso às custas de um modelo de desenvolvimento que concentra renda e riqueza, de um sistema tributário injusto que contribui ainda mais com essa concentração, e de um formato de gestão que nega recursos às políticas públicas, em especial ao SUS estadual, já que estamos falando em pandemia.

Dolorosa ironia do destino, um dos municípios símbolo desse modelo de desenvolvimento, Sinop, experimentou mortalidade de até 100% entre os pacientes internados em leitos públicos de UTI para adultos em seu hospital regional.

Nada acontece por acaso. Os números da covid-19 em Mato Grosso não são produto do acaso ou de mera fatalidade. Os números da covid-19 em Mato Grosso são produto de decisões governamentais, de escolhas políticas determinadas por interesses econômicos, não apenas agora na pandemia, mas por anos antes dela. E devemos ter consciência disso, do contrário, a história pode se repetir novamente como tragédia.

Leia Também:  Pleno do Tribunal de Justiça, por unanimidade, respalda voto do desembargador Pedro Sakamoto e rejeita suspeição levantada por Humberto Bosaipo contra o desembargador Luis Carlos da Costa. Tanto Bosaipo quanto Riva - "deputado ficha suja", na definição do MP - temem que Luis Carlos Costa confirme 3ª condenação de Bertolucci contra os dois

Temos que ter consciência dessas injustiças estruturais para que possamos lutar e acabar com elas. A dor que sofremos pelas pessoas que perdemos para a pandemia tem que nos mobilizar para essa luta.

Lutar por um modelo de desenvolvimento econômico que produza e distribua riqueza e renda com justiça, que coloque pão na mesa de todo o nosso povo e que proteja a nossa biodiversidade. Lutar por um sistema tributário que não sacrifique os pequenos para manter os privilégios dos muito ricos. Lutar por políticas e serviços públicos de qualidade para todos os mato-grossenses. Lutar pelo SUS, por um sistema público de saúde fortalecido e capaz de cuidar bem de toda a nossa população.

São essas algumas das lições que precisamos aprender e apreender depois de tantos meses de sofrimento e dor, até porque a tempestade ainda vai levar tempo para passar.

*Lúdio Cabral é médico sanitarista e deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso.

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