O melhor detergente é a luz do sol
EDMUNDO ARRUDA JR: O 7 de setembro serve para uma radiografia do movimento bolsonarista. A capacidade de reversão da marcha fascista dependerá de um enfrentamento à altura de repúdio ao golpe
O melhor detergente é a luz do sol
EDMUNDO ARRUDA JR: O 7 de setembro serve para uma radiografia do movimento bolsonarista. A capacidade de reversão da marcha fascista dependerá de um enfrentamento à altura de repúdio ao golpe
Fascismo tardio: do devaneio à realidade*
Por Edmundo Arruda Jr
Ideias preconceituosas e atitudes autoritárias de indivíduos e grupos tendem a preceder ideologias totalitárias e, consequentemente, suas políticas de “saneamento” geral. Quando alojadas no estado por um govermo que as incentivam e promovem tem-se um quadro de terror institucional, vale dizer, da morte da sociabilidade.
A vulgarização abusiva de significantes pode, no caso de conceitos, conduzir à perda da referencialidade linguística para a análise histórica do passado e do presente. Quando se utiliza a palavra fascismo de maneira indiscriminada e aleatória chega-se, no limite da filosofia “imetiática” à banalizações ridículas entre as quais a de ensinar-se, na onda das terapias de autoajuda em voga, a “conversar com um fascista”, a exemplo de Márcia Tiburi.
A militância de esquerda tradicionalista pode ser chata e piegas na repetição de bordões, chavões e mantras em louvor a profetas e livros sagrados. Pode ser alienada e mesmo reacionária por falta de autocrítica capaz de mudar compreensões e comportamentos minimamente conectados com a classe que julgam representar. Mas erros e equívocos dos socialistas não lhes retiram parcelas de verdade.
Interessante observar como o conjunto de habitus do ser e agir socialista em seu semso comum ajudou a eleger Bolsonaro, mas as palavras de ordem dirigidas ao presidente, ” golpista”, “genocida”,”fascista”, entre tantas outras, merecem cada vez mais um crédito na atual desordem das coisas, pois vão ganhando sentido importante de alerta quanto aos riscos iminentes ao estado de direito. Aqui o foco se restringe a uma característica de Bolsonaro,fascista, e do fascismo em seu governo.
À retórica estratégica um tanto exagerada das adjetivações sucede uma ética possível de legítimas nomeações nas quais o avanço do absurdo vem revelando, cem anos após os eventos do fascismo e do nazismo, na Europa, a confirmação do improvável e extemporâneo: uma peste mundial com muitos ovos da serpente.
Não parece aceitável a importação mecânica de conceitos pertinentes à outros contextos históricos para realidades tão distantes e díspares no espaço e no tempo. Transplantes teóricos podem funcionar como ideias fora do lugar, gerando farsas, piadas e tragédias. A rejeição (de doutrinas e acões) é o risco recorrente a hidratar seguidas derrotas das classes trabalhadoras
Aprendi com Nicos Poulantzas (Fascismo e Ditadura) e Leandro Konder (Introdução ao fascismo) que o fascismo foi uma resposta a um empate hegemônico, produto e produtor de um vazio no poder, dadas as condições de países destruídos na primeira guerra mundial, sob um mercado global na qual suas crises cíclicas ganhavam um ingrediente complicador, o advento do socialismo real russo, um estorvo geopolítico. Curiosamente os russos foram de importância essencial para a derrota do nazifascismo. O preço foi a expansão por ocupação do império soviético ao final da segunda guerra. E as reações à entrada do que restou dele no mundo capitalista.
Hoje a extrema direita situa-se em outros contextos nos quais o acirramento de conflitos é muito maior, gerando uma anacronia entre sociedade e política, trabalho e mercado, massas e utopia. Essas mutações geram impasses na trôpega democracia liberal, revelando seus limites. Há ao lado misérias culturais e sociais ao redor do mundo e nítida regressão, embora não haja mais e na mesma medida: a) uma reconstrução da Europa (um novo Plano Marshall); b) tampouco uma classe trabalhadora organizada, inserida na produção com conquista progressiva de direitos e avanços na consciência de classes; c) partidos comunistas relacionados com o Comiten em Moscou ou com algum grau organizativo capaz de organicidade e poder de mudança (a queda do Muro de Berlim em 1989 começa a surtir efeitos retardados nas cabecinhas marxistas mais heterodoxas); d) uma bipolarização real entre capitalismo versus comunismo.
A China não é, em definitivo, um país comunista. Vivo fosse Glauber Rocha veria realizada sua profecia, a de uma síntese improvável entre dois sistemas, parindo o que na falta de outro nome pode-se-ia chamar de capitacomunismo. É uma sociedade de mercado sob a diretiva de um partido único mais preocupado com a produção da riqueza que com a escatologia marxista. O Estado enquanto aparato burocrático sempre serviu ao mercado, sendo imorescindível para a reprodução do modo de produção capitalista. Entretanto, há se considerar algumas nuances nesse perigoso vazio nos tempos de hoje. Despiciendo entrar na discussão sobre o discurso neoliberal do estado mínimo, falacioso em face dele se configurar, na prática de desregulamentações e regulamentações, num estado máximo do pior dos Capitais…
Por certo, hoje a extrema direita apresenta outras característas, tais quais a rejeição crescente aos imigrantes e a consequente ampliação do populismo xenofobista. Mas a pressuposta irupção do neofascismo tardio se responde a mais uma das crises acumulativas do capital e da dificuldade de gestão da mesma em face das bolhas de um mercado financeiro volátil e fictício, apresenta no caso brasileiro um componente anticomunista absolutamente contrafático.
Não subestimo a capacidade da indústria da desinformação. Ela foi fundamental para a conquista do poder por Bolsonaro. Falsas notícias e uma cartilha olavista propagam teorias conspiratórias tendo como base os falsos protagonismos: a) de um marxismo cultural gramsciano invasivo de todas as instituições civis e políticas, no plano nacional; b) de um crescente e também perigoso comunismo chinês, no plano internacional.
Ora bolas, Gramsci é tão conhecido quanto maiores os seus truísmos e inconsistências que o tornam um marxista ecleticamente utilizado por socialistas burocráticos, liberais e, pasmem, pela direita bolsonarista na leitura de Olavo de Carvalho, um intelectual orgânico ultraliberal que vem formando, à sua imagem, outros intelectuais ou olavetes, os filhos de Bolsonaro, Ernesto Araujo, Rodrigo Constantino, Bia Kicis, Allan dos Santos, Guilherme Fiuza, Carla Zambelli, entre tantos outros.
O protofascismo brasileiro se não forjado nas condições de possibilidade originais, é potencialmente mais letal, como de resto o é na Europa, embora entre nós tenha em Bolsonaro as presenças nocivas da militarização/milicianização precoces da sociedade civil. Essa letalidade está situada num duplo efeito reativo, realimentando-se, reciprocamente: 1°) de um imaginário falseado no qual ao medo e à insegurança de uma globalização perversa – cujos déficits de modernidade agora são de responsabilidade exclusiva do mercado capitalista (os socialismos morreram), a ultradireita reage (contra a desordem social, moral, dos costumes) sem menor noção da sua gênese da qual é refém. Ao caos situado no bojo de crises projeta-se como causa um inimigo fantasioso, o comunismo em geral e o comunismo de mercado ascendente, o Chinês, fatores da instabilidade de indivíduos, da família, da educação.
Não obstante a aflição nos jardins evangélicos há um conluio entre desespero infundado dos defensores da tradição e os dirigentes financeiros. Dois fatos devem ser realçados: 1°)A apropriação indébita do mundo industrial pela China incomoda os neoliberais em tempos de bolhas e desarticulações típicas de seus processos acumulativos, afinal, os mercados financeiros e das moedas escapam ao âmbito dos Estados e preocupam os donos históricos do poder e do dinheiro; 2°) as políticas ultrareacionárias em ascenso em muitos países do Norte e do Sul não obedecem a limites geográficos. Ao atingirem sociedades mais consolidadas em termos políticos e econômicos de desinstitucionalizações, dilapidam-se as condições internacionais para contraposições de forças, expandindo os riscos de ondas fascistóide em termos mundiais.
No Brasil novos pentecostais e católicos tradicionalistas têm dificuldade de entender que a sensação de medo de um mundo fraturado guarda relação direta com esse pacto absolutamente contraditório entre entreguismo e poder do dinheiro que produzem a insolvência cultural, por parte dos dirigentes. Guedes é operante na medida que parece nada fazer.
Derrotar Bolsonaro é um passo decisivo e imediato para enfrentar algo muito mais forte que a ele persistirá, o bolsonarismo. Este já contaminou indelevelmente uma casta de intelectuais flutuantes nas academias, amplos setores de classe média vulneráveis às desinformação oficialmente oferecida, sem contar os milhões de setores subalternos da sociedade, desesperados com a insegurança crônica e ainda encantados com o discurso e as posturas salvacionistas propagadas pelo governo.
O sete de setembro de 2021 serve de base para uma radiografia do movimento bolsonarista. A capacidade de reversão da marcha fascista dependerá de um enfrentamento à altura de repúdio ao golpe.
A democracia não pode tolerar um governo que reiteradamente veicula juízos depreciativos sobre a política e a magistratura, o jornalismo e a cultura críticas, jogando poderes da República entre si e fomentando o ódio dos cidadãos contra suas instituições.
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*Edmundo Lima de Arruda Jr é sociologo e professor titular aposentado da UFSC.

Edmundo e o capetão
O melhor detergente é a luz do sol
EDMUNDO LIMA DE ARRUDA JR: Na sucessão de Barroso, Lênio Streck desnivela qualquer outro candidato para vaga no STF
Não há dúvidas. Lênio Streck é hoje o jurista mais preparado para os desafios naquele padrão Supremo. O STF merece nomes do mais alto nível entre nossas mentes na área do Direito.
A escolha é política e causa uma mistura de surpresa e espanto ao pipocar de nomes: o Advogado geral da União, Jorge Messias, preparadíssimo, parece forte, mas ainda consolidando seu nome no meio jurídico.
A Janja quer, por critérios de amizade, Carol Proner, esposa de Chico Buarque, pouco expressiva em trabalhos com a técnica jurídica e na teoria da hermenêutica constitucional.
Lenio talvez seja grande demais para merecer a confiança de Lula num contexto no qual nosso presidente já se decepcionou com muitas de suas escolhas e se vê pressionado por uma militância conhecida… .
Lênio desnivela qualquer outro candidato, por melhor seja o currículo de muitos disponíveis, por erudição, produção acadêmica e técnica, visão crítica, múltiplas capacidades no raciocínio jurídico, sobretudo, pela coragem e criatividade nos fundamentos da interpretação constitucional.
Em cinco anos produziria uma revolução na nossa mais alta Corte.
Edmundo Arruda, sociólogo e jurista, nascido em Cuiabá, MT, vive há tempo em Florianópolis, SC

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