(65) 99638-6107

CUIABÁ
Pesquisar
Close this search box.

O melhor detergente é a luz do sol

A maior operação policial do Judiciário brasileiro contra venda de sentença só prendeu um negro, até agora   

Publicados

O melhor detergente é a luz do sol

 

Corrupção no Judiciário: um negro na cadeia e pedido de prisão do desembargador branco indeferida

POR ENOCK CAVALCANTI 

 

 

Corria o dia 5 de dezembro de 2023, final de expediente, quando o advogado Roberto Zampieri, de 56 anos, afrouxando a gravata, saiu de seu escritório, no bairro Bosque da Saúde, em Cuiabá, e entrou em uma picape Fiat Toro para tomar o rumo do descanso noturno, em sua residência. Ali mesmo, em frente ao seu local de trabalho, na moita, um atirador o espreitava, pronto para executá-lo. 

Com a pistola em mãos, o assassino a colocou dentro de uma caixa para abafar o barulho dos disparos e, demonstrando boa pontaria, acertou diversos tiros no advogado que, sem chances de defesa, ali mesmo morreu, certamente estupefato, ensanguentado no banco do veículo. A gente lembra logo das execuções mafiosas, nos filmes estrelados por  Joe Pesci, Lee Marvin, Vincent Cassel, Harvey Keitel, Robert De Niro…

(Para desgraça de Mato Grosso e de sua gente, Roberto Zampieri não foi o único advogado metralhado, recentemente. Renato Gomes Nery, 72, ex-presidente da OAB-MT, personagem bonachão das noites cuiabanas, foi assassinado em esquema semelhante de pistolagem, também em Cuiabá, no dia 5 de junho de 2024.) 

A repercussão da morte e a forma brutal da execução, lembrando os tempos em que Mato Grosso aparecia como “o Estado do 44” (arma de grosso calibre), viraram capa em diversos veículos de comunicação do Estado e também do Brasil. Desde que foi para as manchetes, há mais de ano, a execução do advogado Roberto Zampieri, com diversos balaços, vem se mantendo nas manchetes. Um crime que chocou Cuiabá, chocou Mato Grosso, chocou o Brasil. 

Diante do assassinato de um “colarinho branco” e de toda a exposição midiática do crime, nos saites, no rádio e na TV, as autoridades policiais tiveram que se mexer. E continuam se mexendo. Ainda há muito que se revelar.  

A Polícia, pelo que se conta, iniciou uma “profunda investigação” para descobrir quais foram os responsáveis pela morte de Roberto Zampieri, e uma das primeiras iniciativas dos investigadores, que segue reverberando, foi a apreensão do celular do advogado morto. O que não se sabia era que, no celular do advogado, se escondiam muitos registros, em áudio, textos e fotos, envolvendo a sempre comentada e nunca provada prática de venda de sentença por membros do Poder Judiciário, desde instancias mais singelas, onde jurisdicionam juízes, mas também em Tribunais de Justiça, onde atuam os desembargadores e, também, nos altos Tribunais Superiores, lá em Brasília, espaço de atuação da elite da Justiça, formada pelos ministros, sempre entronizados a partir de uma decisão da presidência da República,

O caso ainda está sob investigação, mas já se cogitou que, após detectadas as informações sobre a venda de sentença, a todo custo foi tentado abafar os fatos. Um juiz de Cuiabá proferiu decisão segundo a qual só ele poderia ter acesso ao celular, acautelando o telefone. Familiares de Zampieri pretenderam que o celular do causídico, que concentrava tanta informação inesperada, fosse destruído, incinerado, quem sabe jogado no Portão do Inferno. Tímida, em Mato Grosso, no princípio, a cobertura jornalística foi ganhando corpo, a partir do momento em que os jornalões brasileiros, como o Estadão e a revista Veja, abriram suas páginas para o desdobramento do caso e para a continuada revelação dos vazamentos, apesar do alegado segredo de Justiça. O segredo de Justiça, pelo que se vê, nunca é para todos e todas.

O aparelho telefônico do Zampieri se revelou, mesmo, um celular bomba, fazendo com que as investigações policiais se irradiassem pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso, pelo TJ do Mato Grosso do Sul, chegando mesmo a lançar suspeitas sobre figuras com atuação no Superior Tribunal de Justiça e mesmo no Supremo Tribunal Federal. Zampieri era capaz de articulações que ninguém imaginaria que um advogado até então desconhecido fora da bolha da advocacia cuiabana, fosse capaz de desenvolver. No insólito aparelho falava-se de tratativas para comercialização de decisões judiciais nas mais diversas e inesperadas instâncias. O que tanto se suspeitava, de repente, estava ali, em toda sua materialidade. Fez sucesso, provocou alguns risos, por exemplo, a imagem gordota do desembargador Sebastião de Moraes, exibindo-se no zap do Zampieri com o uniforme do glorioso Botafogo de Futebol e Regatas, o time de Didi, Nilton Santos, Garrincha e Gerson, o Canhotinha de Ouro. As revelações vão surgindo aos borbotões. Nem se precisou de um hacker, como no caso da Vaza Jato, que implodiu com os alicerceres da chamada República de Curitiba. O celular de Zampieri entrega suas revelações diretamente para as autoridades policiais e alguns jornalistas mais antenados com personagens da trama.

Leia Também:  CONTRIBUINTES É QUE PAGAM O PATO: Mesmo reconhecendo que existem fortes indícios de que Sérgio Ricardo, "numa conduta absolutamente ilegal e imoral", pagou por vaga no Tribunal de Contas de MT, juiz federal Jefferson Schneider absolve Sérgio Ricardo dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Mesma decisão já beneficiara multimilionário Blairo Maggi no TRF1

Estamos diante de um enredo no qual só escritores especialistas nas tramas de tribunais, como John Grisham, Scott Turrow, William Landay, Frederic Forsythe ou Erle Stanley Gardner haviam antes se arriscado, e que irrompia assim, de repente, desafiando todas as pautas, como um “caso verdade” que a imprensa mato-grossense, certamente, não está preparada para devassar – e cujos desdobramentos e revelações tem dependido, em grande parte, da arte da reportagem de jornalistas como o veterano Fausto Macedo, a partir de Sampa, e dos escavadores de bastidores que alimentam as páginas do Portal Metrópoles, de O Globo, do Portal UOL, da revista Veja e da Folha de S.Paulo, com melhor acesso aos tribunais superiores, lá no DF. Saites jurídicos especializados como o Consultor Jurídico, o Jota e Migalhas tem se mantido muito discretos na cobertura desses rumorosos inquéritos, submetidos ao segredo de Justiça, tanto no Conselho Nacional de Justiça quando no STJ e STF, onde as decisões dependem da pena de ministros como Mauro Campbell, corregedor nacional de Justiça, e Cristiano Zanin, nomeado por Lula para a Suprema Corte. 

O fato é que agora, depois dessa devassa que vem acontecendo no TJ-MT e demais instâncias, se sabe, como nunca, que existiam os compradores de sentença (advogados e partes interessadas), existiam os vendedores de sentença (magistrados) e, nestes casos mais específicos, em que interveio Zampieri, até mesmo um intermediário, um corretor negro, chamado Andreson de Oliveira Gonçalves, que são suspeitos de fazer o dinheiro circular, entre as muitas partes pretensamente envolvidas neste jogo sujo. Afinal, é da prostituição da tutela jurisdicional de que se está falando.  Imagino que não exista, para um magistrado que procure honrar o seu mister, coisa mais degradante do que a acusação de que ele possa ser um vendedor de sentença. Cada profissional com a sua agonia. A tutela jurisdicional foi estabelecida, nas modernas democracias, para ser exercida por meio de um processo judicial, onde as partes podem apresentar suas razões e provas para que a demanda seja pacificada por um juiz imparcial – jamais por um juiz vendilhão, um bandido de toga.

Expondo resumidamente uma parte dos fatos que pesam contra os magistrados investigados, e que foram objeto da chamada Operação Sisamnes, deflagrada pela Policia Federal para investigar os  crimes de organização criminosa, corrupção, exploração de prestígio e vazamento de informações sigilosas (quem sou eu para açambarcar todas as implicações desse caso rumoroso!), o que constato, como dado curioso, é que um dos juízes atingidos pelas investigações foi o magistrado da Comarca de Vila Rica, do interior mais profundo de Mato Grosso (1.162 quilômetros da capital), cujo nome é Ivan Lúcio Amarante – e Ivan é uma pessoa branca, olhos castanhos, cabelo baixinho, acusado de vender sentença o que, em se tratando do Judiciário, é um crime considerado muito grave, o mais grave.

O desembargador Sebastião de Morais, um dos decanos do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, e que também é suspeito de vender sentença em negociações com o advogado Zampieri, também é branco, estatura baixa. Encontra-se afastado de suas funções, preventivamente e nega todas as acusações apresentadas contra ele.

Joao Ferreira Filho, outro desembargador mato-grossense investigado e já afastado preventivamente de suas funções pelo Conselho Nacional de Justiça, é também branco, olhos castanhos. 

Uma das mulheres acusadas de pretensamente ocultar e lavar dinheiro para o desembargador João Ferreira Filho, a senhora Alice Terezinha Artuso, citada como sua filha e servidora do TJMT, pelo que se viu na mídia, tem cabelos bem claros, longos e bem cuidados, quase loiros, olhos claros. A batida policial, além de revelar que Alice tratava de praticamente toda movimentação financeira de interesse do desembargador João Ferreira Filho, no seu questionado relacionamento com Roberto Zampieri, também documentou a localização de uma quantidade do entorpecente cetamina em seu endereço, o que a obrigou à assinatura de um termo circunstanciado, mas a branca Alice teve a sua liberdade garantida. 

Andreson de Oliveira Gonçalves, o lobista – apontado nas investigações e nas reportagens como peça-chave em meio ao escândalo de venda de decisões judiciais de repercussão nacional, que, partindo do TJ-MT envolveu também o  Superior Tribunal de Justiça (STJ) – esse lobista e empresário, por ter se passado por advogado registrado na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Pará e ter representado ilegalmente clientes no segundo mais importante tribunal do país – bem, esse personagem é negro, e dentro do núcleo jurídico da trama, é o único suspeito e acusado que está preso, detido pela Policia Federal desde o dia 26 de novembro de 2024. A corda, até aqui, arrebentou, pelo visto, apenas do lado de um negro. É um dado para a análise daqueles que se preocupam com o que acontece com a negritude, no Brasil.

Leia Também:  JORNALISTA SANDRA BITENCOURT: O caso do aborto da menina catarinense revelado pelo jornalismo brasileiro ganhou as páginas da Newsweek, New York Post, ABC News, Daily Mail, portal Independent. Que posição o jornalismo deverá tomar desta vez? Diante da fome, da morte, da violência e do desmanche, a apreensão de assunto tão difícil como o aborto pode prescindir de um debate sério, informado e consequente?

Cabe a reflexão: o desembargador João Ferreira, pelo que se pode deduzir até aqui e pelo que informam os documentos da Policia Federal, vendia a sentença e sua filha, a senhora Alice Terezinha, recebia o dinheiro relativo a essa venda de sentença e adquiria bens de luxo para o desembargador, tanto que posteriormente as aquisições apareciam no imposto de renda do magistrado. Essa manobra, assim descrita em documentos da PF, além da venda da sentença envolve ocultação, fraude e lavagem de capitais, crimes que me parece de potencial ofensivo maior do que a ação de alguém que intermediava o comércio de sentenças. 

Cabe destacar, além do mais, para ilustrar a sorte dos cidadãos brancos, de que trato aqui, cabe informar que o ministro piracicabano Cristiano Zanin Martins, que é branco, recebeu no final de dezembro de 2024, pedido dos delegados da Policia Federal para que o branco desembargador mato-grossense João Ferreira Filho fosse preso, mas Zanin preferiu seguir o parecer das autoridades da PGR segundo as quais as medidas cautelares adotadas são suficientes para assegurar a aplicação da Lei Penal e evitar novas práticas delitivas.

Diante dos lamentáveis fatos aqui expostos resumidamente, já que a investigação prossegue e deve ser muito mais ampla, o fato que se tem é que, de todos os acusados, do núcleo jurídico, só o negro está preso em Cuiabá, recolhido à cadeia em RDD – Regime Disciplinar Diferenciado, um regime de cumprimento de pena mais rígido do que o regime fechado. Esse regime é aplicado a presos provisórios e condenados que cometem crimes dolosos ou que apresentam alto risco para a segurança.  As principais características do RDD são: Células individuais, Limitações ao direito de visita, Limitações ao direito de saída da cela, Maior grau de isolamento, Restrições de contato com o mundo exterior. Ou seja, Andreson é encarado como um bandidaço. E talvez seja. Mas é certo que esse negro não agia sozinho. E o que temos é que esse negro, dentro dessas investigações quanto ao núcleo jurídico, é um preso solitário.

No presidio, Andreson único preso que, certamente por coincidência, é negro, pelas informações que nos chegam,  tem reclamado que há falhas na entrega de seus medicamentos, não recebe o tratamento de saúde que reivindica, já que estaria sofrendo picos de glicose dentro da cela, justamente pela falta dos remédios necessários. Sua saúde já estaria debilitada, iniciando processo depressivo, o que, como se sabe, em muitos casos, já levou pessoas à morte.  São alegações que, sem dúvida nenhuma, dentro dessa que é apontada como maior operação para apuração de pretensa corrupção em nosso sistema de Justiça, devem ser investigadas e esclarecidas para melhor conhecimento da sociedade.

O preto, que terá também que responder por acusações de possível envolvimento com o crime organizado, é o único suspeito submetido à prisão e a todas as pressões daí derivadas. Já os brancos, acusados de crimes graves, estão acautelados com tornozeleiras, tiveram celulares e computadores apreendidos, foram proibidos de viajarem para fora do Brasil. Mesmo com medidas cautelares ampliadas, o fato é que seguem soltos, e devem ter curtido com maior tranquilidade a consoada natalina e a festa de chegada do ano novo em companhia de familiares e amigos. Imagino que não terão ânimo para brincarem o Carnaval, mas se quisessem…

Fica a reflexão: Por que o negro, nessa fase de inquérito, não recebeu tipo a mesma punição de ser monitorado através uma tornozeleira na canela nas 24 horas do dia, grande restrição que foi adotada com  relação a todos os brancos e brancas envolvidos na mesma investigação, em se tratando no núcleo jurídico da pretensa quadrilha?  

Como ainda há certamente muitas outras revelações a serem feitas no decorrer deste caso, nos parece justo buscar um tratamento de equilíbrio. Só assim  o Judiciário de Mato Grosso, e todas as demais instâncias investigadas – com seus  magistrados,  advogados,  servidores e  lobistas – poderão ser passadas a limpo de uma forma equânime, sem que se abra brechas para que se fale no privilegiamento de quem quer que seja.

 

 

ENOCK CAVALCANTI, 71, jornalista, é editor do blogue PAGINA DO ENOCK que se edita a partir de Cuiabá, Mato Grosso, desde o ano de 2009. 

 

João Ferreira, o desembargador, Andreson Oliveira, o lobista e Alice Artuso, servidora do TJMT, filha do desembargador

COMENTE ABAIXO:
Propaganda

O melhor detergente é a luz do sol

ENOCK CAVALCANTI: A bosta do governo de Mauro Mendes em Mato Grosso está exposta nas redes

Publicados

em

A bosta do governo de Mauro Mendes está exposta nas redes

Enock Cavalcanti

Sim, a atividade política, no Brasil, tem sempre um tom de pornografia. À direita e à esquerda. Os eleitores que se lasquem, já que os políticos que temos, em sua maioria, não se preocupam com as exposições vexatórias, eles querem mesmo é faturar, ajuntar tesouros na terra, talvez, quem sabe,para esquecer a própria insignificancia deles mesmos como seres humanos. Homens mercadorias.

Em Mato Grosso, então, tudo parece que fica mais constrangedor. Nestes últimos dias, as atividades governamentais do empresário Mauro Mendes tem sido traduzidas, nas redes, nas manchetes, nas conversas de botequins, nas piadas de alcova, através de palavrões. Palavras de baixo calão para resumir uma confusa experiência de sete anos de governo.

Vejam que nosso governador bolsonarista disparou xingamentos contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro, aquele que fugiu para os Estados Unidos para tentar tramar, com Trump, um golpe contra as instituições democráticas em nosso País, já que a intentona de 8 de janeiro de 2023 restou apenas como uma trama tabajara.

Mauro Mendes está certo, penso eu, tentando ser livre ao pensar. Eduardo Bolsonaro só fala e faz merda lá no centro do império americano, e financiado pelos contribuintes brasileiros, já que segue ganhando seus proventos como deputado federal. Um acinte. Uma situação vexatória, pornográfica.

Lá dos Estados Unidos, Eduardo respondeu e sugeriu que Mauro Mendes é que é um bosta, um frouxo, um governador que não honra as calças que veste, já que xinga a ele, o filho do ex-presidente Bolsonaro, enquanto trabalha duramente para herdar os votos do gado que Bolsonaro agregou em Mato Grosso, terra onde o bolsonarismo parece ter encontrado um vasto pasto,

O que dizer desses homens e dessas mulheres que respaldam, com seus votos, personalidades políticas aparentemente forjadas na torpeza, como Mauro Mendes e Eduardo Bolsonaro? O grande desafio da política brasileira será, então, decifrar e compreender como funciona a cabeça de um patriotário que vota hoje no candidato que uma vez eleito irá amanhã, quando tiver poder, pisotear no destino deste patriotário. Dificil explicar essa fé cega, essa faca amolada sempre a ameaçar a esquerda em nossa sociedade. Alguém me diz que tem tudo a ver com uma competente manipulação da fé dessas pessoas nos designios do Deus Jeová, mas as evidencias não são tão óbvias assim. Há patriotários apegados às mais diversas crenças religiosas.

O fato é que a bosta do governo de Mauro Mendes está exposta nas redes para quem quiser saber dela. O assunto não é amplamente debatido na mídia regional porque a mídia regional recebe farta grana das instituições públicas para justamente evitar aprofundar a reflexão sobre as práticas das instituições públicas. Ou seja, nossa imprensa também é uma merda.

Leia Também:  DEPUTADO ROGÉRIO CORRÊA (PT-MT): "A cada dia surge uma nova evidencia do comprometimento do Aécio Neves em esquemas de corrupção. Aécio sempre foi patrocinado por grandes empresas, misturando frequentemente a sua vida privada com esses financiamentos. Se agora, com a delação dos R$ 300 mil da UTC, o doutor Janot não abrir urgentemente inquérito contra o Aécio, o Ministério Público Federal pode fechar a porta"

O advogado e ex-governador Zé Pedro Taques entrou em cena para reforçar a desqualificação do governador Mauro Mendes, e ecoar a avaliação do Eduardo Bolsonaro de que o governador de Mato Grosso é, na verdade, o Mauro Mendes Bosta, o Mauro Mendes Merda.

Cabe o gracejo: nunca a política em Mato Grosso fedeu tanto. Mas o que temos de fato é uma mera constatação, diante de nossos olfatos já tão comprometidos. Sempre estivemos no esgoto da política. As elites trabalhando para continuarem como elites mandantes e acumuladoras de riquezas, enquanto o zé povinho rala e se ferra, mergulhado na merda de uma vida de sacrificios que nunca lhe oferta um momento efetivo de repouso.

Zé Pedro xinga Mauro Mendes mas até agora não xingou publicamente o atual ministro e senador licenciado Carlos Favaro, que tem atuado fortemente nos bastidores da política para tentar impedir que Taques assuma o controle do PSB em Mato Grosso e possa, assim, se qualificar para a disputa por uma vaga no Senado em 2026. Disputar o Senado é o sonho de uma noite de verão de Taques, pois quando esteve lá conseguiu avaliação positiva, ao contrário do tempo em que governou Mato Grosso ao lado do primo Paulo Taques.

Fávaro, pelo que faz crer, teria medo de disputar esta vaga com Zé Pedro e acabar perdendo para aquele ex-governador de quem foi vice e com quem rompeu, no passado, de forma tão pornográfica. Fávaro, estranhamente abençoado por Lula, surge então como mais um cacique a tentar reinar sobre o poder político na terra de Rondon e impor os interesses do Agro.

A luta de Zé Pedro para ter uma segunda chance diante do eleitorado cuiabano e mato-grossense merece ter um acompanhamento mais atento do povo de nosso Estado. Mas as coisas que acontecem nos bastidores não são expostas para o grande público. A surda disputa entre Fávaro e Zé Pedro ainda não ganhou as manchetes porque tudo se passa no silencio das conversas palacianas, em Brasília, e se Taques conseguir convencer o atual presidente nacional do PSB, o prefeito João Campos, de Recife, da importância dele revigorar a legenda em Mato Grosso, pode ser que, no final das contas, Zé Pedro e Fávaro tenham que, finalmente, se alinhar para a disputa contra o grupo de Mauro Mendes, Pivetta e bolsonaristas na rinha eleitoral de 2026. Quer dizer, as guerras dessa pré-campanha, já sinalizam para guerras futuras dentro dos blocos políticos que vão se formando para gerir a crise mato-grossense pela qual esses blocos políticos tem grande responsabilidade. Deu pra entender? Não sei se o eleitorado tem a paciência necessária. O eleitorado, afinal, existe para ser explorado não para pensar, segundo o conceito das elites. Povo é só uma abstração, por mais que a Carta Magna diga que “todo poder emana do povo”.

Leia Também:  CONTRIBUINTES É QUE PAGAM O PATO: Mesmo reconhecendo que existem fortes indícios de que Sérgio Ricardo, "numa conduta absolutamente ilegal e imoral", pagou por vaga no Tribunal de Contas de MT, juiz federal Jefferson Schneider absolve Sérgio Ricardo dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Mesma decisão já beneficiara multimilionário Blairo Maggi no TRF1

Max Russi, por seu turno, se prepara para pular do esquerdista PSB para o direitista Podemos – e tudo parece tão natural, como se fosse natural essa salada ideológica envenenada pelo oportunismo que é sempre servida aos cidadãos eleitores e contribuintes de Mato Grosso. Politicos tradicionais, afinal de contas, também se comportam como travestis.

Viver é perigoso, sugeria Guimarães Rosa, através do seu personagem Riobaldo, em “Grandes Sertões Vereda”. Viver, em Mato Grosso, como se vê, é conviver cotidianamente com o esgoto da política. Nesse trajeto aparentemente infindável pelo esgoto, no final das contas, como ficamos nós? Eduardo Bolsonaro é um merda. Mauro Mendes é um bosta. E nós, aonde vamos? Em 2026, só nos será dada a chance de escolher entre candidatos pornográficos? Os ruins e os menos piores?

A direita e a extrema direita controlam as disputas políticas e eleitorais em Mato Grosso e vão nos arrastando para uma manifestação, nas urnas, que pode se confundir com um vômito. A esquerda se deixou enfeitiçar pela grana do Agro. Não temos opção, de fato, se os subalternizados, os debaixo, os fudidos, não conseguirem fazer valer seus interesses nesse campo minado da política.

Para escapar desta armadilha, fugir dos impropérios vazios e buscar uma saída que valha a pena teríamos que tentar nos transformarmos no super homem de Nietzsche. O super-homem como imaginou Nietzsche (Übermensch) é um ideal filosófico de indivíduo que supera os limites humanos e a moralidade convencional, criando seus próprios valores e vivendo autenticamente. Ele não é uma figura de poder físico como o herói dos quadrinhos, mas, sim, aquele que vence o niilismo e a decadência, abraçando a vida com coragem e vontade de criar seu próprio destino.

Essa tarefa não é fácil, mas já teremos conseguido alguma coisa se, pelo menos, não nos deixarmos envolver pela lógica dessas abomináveis lideranças políticas que temos hoje em Mato Grosso, a turma da bosta e a turma da merda que se agridem mutuamente, atualmente, nas manchetes.

ENOCK CAVALCANTI, 72, é jornalista e editor do blogue PAGINA DO ENOCK, que se edita a partir de Cuiabá, Mato Grosso, desde o ano de 2009.

 

COMENTE ABAIXO:
Continue lendo

MATO GROSSO

POLÍCIA

Economia

BRASIL

MAIS LIDAS DA SEMANA