Esse Pedro é só rompante?
por Miranda Muniz
Impossibilitado de ir à pose da presidenta Dilma, tive que me contentar com a posse do novo governador Pedro Taques. Mesmo tendo apoiado outro candidato, o Lúdio, entendo que prestigiar um ato de posse daquele que vai governar o Estado pelos próximos 4 anos é um ato importante de exercício da cidadania.
Confesso que me surpreendi com alguns simbolismos que pude perceber durante a solenidade, a começar pela “composição do dispositivo” ou seja da “mesa”. Após ter chamado as autoridades de praxe, houve o chamamento de representantes de praticamente todos os órgãos de controle (Ministério Público, CGU, TCE, etc.), talvez para marcar o “simbolismo da austeridade”.
A seguir, para minha surpresa, foi chamado o Cacique Raoni Metuktire que, vestido a caráter, inclusive com seu tradicional e virtuoso botoque nos lábios, parecia uma figura surreal, transitando pelo “corredor polonês” sobre os olhares atentos da “Cuiabania” e do “povo do sul”, ligados ao chamado agronegócio, que compareceu em número considerável no evento, afinal, o novo vice representa esse importante setor da economia do Estado.
Antes do Governador fazer seu pronunciamento, falaram um padre, um pastor e o novo Secretário de Governo, seu primo Paulo Taques, que fazia um esforço hercúleo para aparecer (a começar pela manjada piadinha do “discurso das 18 laudas”), até parecia querer “roubar o brilho” do Governador, estrela principal do evento.
A seguir, para minha surpresa, novamente o cacique Raoni foi chamado, dessa vez para usar da palavra, o que fez em sua própria língua, com autoridade e em alto e bom tom, com um intérprete a tiracolo que até parecia “amainar” as duras palavras do cacique, expressa pela eloqüência e pelos gestos vigorosos que fazia.
Se apenas a figura do Índio no ambiente solene já havia provocado certo constrangimento em algumas das figuras que prestigiaram a posse, o seu “discurso-protesto”, feito ao lado do Governador, que saiu do seu assento e foi ao seu encontro, numa clara “quebra de protocolo” e aparentando deferência, foi como um “soco no estômago” de alguns setores (muitos deles representados na tribuna de honra) que costumam alardear que índio já tem terra demais e que lutam freneticamente para transferir a responsabilidade da demarcação que é conduzida pela FUNAI para o Congresso, através da famigerada PEC 215.
Quando Raoni falou em “proteção ao meio ambiente”, “defesa do ar puro” e pediu para o Governador se empenhar para barrar a PEC 215 que, segundo ele, se aprovada, prejudicaria os índios e os não índios, aí teve “ilustres figuras” que fizeram cara de mau, quase se retirando do evento e, a partir dali, notava-se perfeitamente uma “movimentação de bastidores” para encerrar a fala de Raoni.
Mas uma coisa é certa: o Grande Cacique Raoni Metuktire “roubou a cena”!
Já o discurso do Novo Governador foi incisivo e emblemático. Iniciou demonstrando devoção sem limites pelas coisas de Mato Grosso, talvez dando um recado a alguns “paus rodados aventureiros” que concebem o Estado apenas como um local onde possam auferir lucro fácil e rápido, através da exploração predatória e sem limites. Chegou a comparar seu amor pelo Estado ao amor pela sua família, declarando que para defendê-lo empenharia a própria vida “se assim for preciso”.
Essa sua devoção pode ser percebido em diversos momentos do seu discurso e também no tom das apresentações culturais que privilegiaram a execução do belo hino do Estado, e canções ícones do tradicional rasqueado cuiabano, que fora interpretadas pela Orquestra de Mato Grosso, e pelo trio Henrique, Pescuma e Claudinho, além de belas canções da Banda matogrossense Vanguart e interpretações marcantes da ascendente cantora Ana Rafaela.
O “sertanejo” e o “vanerão” não tiveram vez na posse de Taques!
Reafirmando seu discurso em defesa da moralidade e contra a corrupção, jurou levar adiante esse compromisso, prometeu buscar “ser o governo mais transparente da história de Mato Grosso” e conclamou a população para fiscalizar cada ato das autoridades, inclusive ele, e denunciar qualquer irregularidade, além de dar um recado de que irá tentar resgatar tudo o que foi tirado indevidamente do Estado pelas administrações anteriores, o que novamente fez muita gente da mesa sentir calafrios.
Passagem marcante foi o compromisso solene que ele fez em defesa da luta contra o preconceito e a discriminação das mulheres, afirmando que “em meu governo, em nosso governo, não permitiremos o sexismo, a desequiparação baseada no gênero”, ocasião em que anunciou que iria “colocar toda a estrutura do Estado para combater a discriminação e violência contra as mulheres”.
Outro aspecto que me chamou atenção foi o “distanciamento” demonstrado em relação às forças políticas e importantes aliados que foram fundamentais para sua vitória: nenhuma referência aos partidos e aos importantes aliados políticos e financiadores de sua campanha, preferindo inaugurar um estilo “do governo do eu sozinho”, ou melhor, de quem só aparenta ter compromissos com a população que o elegeu.
, o que somente o tempo irá dizer.
Entretanto, os simbolismos expressos no ato de posse indicam possibilidades de tempos alvissareiros!
Miranda Muniz, agrônomo, bacharel em direito, oficial de justiça-avaliador federal, é diretor de comunicação da CTB/MT – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil e secretário sindical do PCdoB-MT
Me engana ki eu gosto
Duendes e fadinhas dançavam nos jardins do Palácio. Para muitos basta tão pouco para alcançar a felicidade.
Mais uma vez o que vemos são medidas de impacto. Porém, alguém se ateve ao fato de que Blairo Maggi também foi eleito com o mesmo discurso? O novo em contraposição a velha política. Na verdade, temos que acreditar em mudança, mas não confiar cegamente. A mudança foi escolhida pela população, mas em campanha pouco foi explicado sobre medidas que garantam uma real mudança de postura. É lógico que, depois de um governo desastroso como o de Silval Barbosa, qualquer mudança trará uma drástica mudança de rumo no governo de Mato Grosso. A principal delas é a gestão dos recursos públicos, quanto a cobrança de impostos e aumento da receita pública. Haja vista que nos últimos mandatos houve uma evasão fiscal assustadora. Recursos estes que hoje fazem falta aos setores de educação e saúde pública, se tornando os serviços mais precários da gestão estadual. Outra coisa é a ineficiência da administração pública, contratação de comissionados e contratados em demasia, em setores não estratégicos e se tornando, portanto, ineficientes os serviços prestados. Também, o que se nota em relação a gestão de pessoas, aumentos desarrazoados, privilégios sem contraprestação, aumentos de subsídios e encarreiramento sem critérios de meritocracia, produtividade baixa e absenteísmo acima da normalidade. É necessário uma política de cargos e salários negociados de forma geral. Sem negociações isoladas e separando aquelas carreiras estratégicas das que são de simples execução. Estabelecer políticas de encarreiramento que sejam incentivadoras e motivadoras do profissionalismo e do mérito, adequadas a nova realidade da gestão pública voltada para resultados. Em 100 dias vamos saber se o novo governo está comprometido com mudanças ou se estão somente atirando balas de festim. Medidas de impacto só serão efetivas se tiverem acompanhamento e comprometimento, tanto das equipes da área estratégica, quanto da área operacional e de execução.
O povo está torcendo por Pedro Taques, já é um ótimo começo!!!
Uma parte torcendo contra; outra, a favor. Eu torço para que caia a máscara logo…