A falácia inflacionária do Estadão
A hiperinflação do Estadão
Por Luis Nassif, em seu blog
O Estadão tem dois ótimos colunistas econômicos, Celso Ming e José Paulo Kupfer; dois editorialistas econômicos de peso, Rolf Kunt e Marco Antonio Rocha. E, em geral, uma cobertura sóbria dos temas econômicos.
Por tudo isso, é incompreensível a primeira página de hoje. Nem se diga o “furo” de que a inflação foi maior para as classes de menor renda – consumidores de menor renda gastam um percentual maior da renda com alimentos, logo é óbvio que sejam os mais afetados por uma inflação de alimentos.
O que causou pasmo foi a chamada, na nobílissima primeira página do jornal, de que “os consumidores já adotam táticas da época da hiperinflação (…) como substituir marcas e produtos”.
De onde tirou isso? A própria chamada menciona inflação de 6,5% ao ano e diz que, com a redução da pressão dos alimentos, a tendência é de queda!
Substituir marcas e produtos é comportamento típico de economias estabilizadas, nas quais os preços das diversas marcas se estabilizam em seus respectivos níveis. Tanto assim que a própria metodologia de cálculo da inflação prevê o efeito-substituição.
Além disso, esse movimento dos consumidores é extremamente salutar para segurar altas. Onde há troca de marcas e produtos, há competição e, com ela, limites às altas de preços.
Nunca houve hiperinflação no país. Ela se caracteriza por mudanças diárias nos preços, até horárias, como foi o caso das hiperinflações na Alemanha e em Israel.
Na superinflação brasileira, quando os índices iam de 7% a 12% AO MÊS, não se recorria à troca de marcas nem de produtos, pela simples razão de que não havia estabilidade nos preços no decorrer do mês. Um mesmo produto podia ter preços diferentes em cada supermercado, dependendo apenas do tempo transcorrido da última remarcação.
Se um supermercado demorava uma semana a mais para reajustar os preços, já havia defasagem em relação ao supermercado concorrente. No período mais pesado, antes dos códigos de barra, havia remarcação diária. O que as donas de casa faziam na época – conforme inúmeras matérias do Jornal da Tarde – era troca de informações sobre qual o supermercado que, naquele momento, estava vendendo mais barato determinados produtos.
O que causa pasmo, na nota, é o tiro no pé. Esse tipo de alarmismo, quando disseminado, atrapalha os negócios, suspende planos de investimento e reduz a publicidade das empresas. Que o jornal coloque a notícia acima dos interesses de seus anunciantes, justifica-se nos casos em que o jornalismo se curva ao “senhor fato”. Mas qual a definição a se dar a uma atitude que atropela os próprios fatos em detrimentos dos interesses de anunciantes e do próprio veículo?
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VEJA O QUE O ESTADÃO PUBLICOU NESTA SEGUNDA-FEIRA
INFLAÇÃO É MAIOR PARA QUEM GANHA ATÉ 2,5 SALÁRIOS
INFLAÇÃO DOS ALIMENTOS AFETA MAIS A BAIXA RENDA |
Autor(es): Fernanda Nunes |
O Estado de S. Paulo – 01/04/2013 |
Alta de alimentos impacta mais consumidor de baixa renda do que a média da população, informa FGVO Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC – C1), indicador que mede a inflação entre a população com renda até 2,5 salários mínimos calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi de 6,94% em fevereiro, superior ao da média dos brasileiros, de 6,04%. A alta foi puxada pela disparada de preços dos alimentos adquiridos por esses consumidores, que subiram mais do que os da média da população nos últimos 12 meses. Em fevereiro, a inflação dos alimentos foi de 13,94% no IPC-C1, ante 12,29% da inflação geral, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor – Disponibilidade Interna (IPC – DI). A previsão é de que a desoneração de parte da cesta básica, adotada pelo governo em março, represente um alívio para esse consumidor de baixa renda. A desaceleração, porém, deve ser lenta, de acordo com especialistas, e não ocorrerá em menor de três meses. Em 12 meses, preços dos alimentos mais consumidos por quem ganha até 2,5 salários mínimos subiram mais que os da média da população O aumento dos preços dos alimentos ao longo dos últimos meses vem tirando o fôlego e comprometendo a capacidade de compra de um grupo em especial: o consumidor de baixa renda. Para esse segmento, base da festejada “nova classe média”, a inflação pesa mais. A medida do governo de desoneração da cesta básica, cedo ou tarde, terá resultado. Mas essa desaceleração deve ser lenta.” passou a ser mais sentida neste início de ano, com o fim de alguns programas de incentivo ao consumo, como a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para bens duráveis. Mas o maior peso vem dos alimentos e a tendência, segundo o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre)da FGV,é que a alta de preços desseS produtos perca o fôlego daquf pàra frente. Com isso, diz Braz* a baixa renda pode ter um alívio nos próximos meses. |
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