Eleições no Brasil, Voto Popular
JOSÉ DIRCEU: A questão central não está em fazer alianças mas, sim, em não se subordinar à direita
Eleições no Brasil, Voto Popular


Dirceu
Fazer alianças é da natureza da política
POR JOSÉ DIRCEU
O problema não está em fazer alianças com a centro-direita para enfrentar o bolsonarismo. O que não se pode é abrir mão do programa de reformas estruturais e da construção de uma Frente de Esquerda.
Para alguns, uma encruzilhada se apresenta na caminhada do PT, de Lula, da esquerda. Como se opor à coalizão de direita que governa o país, com todas as contradições reais surgidas nas votações das reformas da Previdência e do pacote anticrime; nas decisões do STF; no posicionamento de parte da mídia de oposição ao caráter autoritário do bolsonarismo e seu fundamentalismo religioso, mas não às suas reformas ultraliberais e à renúncia à soberania nacional.
Não será fácil encontrar um caminho que combine e articule a luta democrática com a luta social e política pelas reformas estruturais mais do que necessárias para que qualquer governo de esquerda ou centro-esquerda retome o crescimento com distribuição de renda, soberania, e amplie nossa democracia, sem o que governar não vale a pena.
Frente Democrática de Esquerda ou Frente Democrática com o Centro, essa entidade abstrata e ao mesmo tempo real, que se opõe tanto a Bolsonaro quanto ao petismo e Lula, mas atrai, encanta e articula setores importantes da esquerda, sem juízo moral ou de valor.
Nas votações na Câmara dos Deputados e, em certa medida, no Senado, derrotamos parte importante das reformas da Previdência e do Código Penal graças à aliança com setores do chamado Centrão. Foi o protesto e a manifestação de parlamentares de vários partidos que impediu a transferência arbitrária de Lula, quando preso, da Polícia Federal de Curitiba para a prisão de Tremembé, em São Paulo. E assim, por meio de frentes, tem sido construída a oposição no Parlamento à Escola sem Partido, à censura, à repressão, às tentativas de governar por decreto-lei ou violar o caráter laico do Estado.
Na prática, temos, portanto, lutas comuns democráticas e algumas sociais e econômicas. Então, por que a polêmica que parece dividir a esquerda? No passado, fizemos a campanha das Diretas em aliança com o PFL e setores que apoiaram no passado a ditadura. Idem na Constituinte, onde só pela pressão popular e alianças amplas conquistamos a Constituição Cidadã.
Acredito que a questão central não está em fazer alianças mas, sim, em não se subordinar à direita e não renunciar ao nosso programa. Que, no caso do PT , passa por reformas estruturais, como a política, a bancária e a tributária; pelo resgate da soberania; e pela ampliação da democracia.
Se temos que compreender os limites de classe da direita que não abre mão das reformas ultraliberais, o mesmo vale para nós. Frente Democrática ou lutas comuns para defender e ampliar a democracia e as liberdades civis e políticas, sim, mas sem deixarmos de lado as reformas estruturais e a construção de uma Frente de Esquerda, garantia da nossa independência e força para aplicar nosso programa de governo.
O mesmo vale para a articulação e combinação da luta social com a política institucional, a organização do povo trabalhador para a luta social e a pressão nas ruas, como a direita fez entre 2015 e 2018. Não há contradição entre priorizar a luta nos bairros e periferias e a luta política.
Ao contrário, sem força popular organizada e consciente não avançaremos e seremos dependentes das forças de direita que buscam construir uma saída que eles apresentam como de centro, como se o problema do país fosse a “polarização” entre a esquerda e a direita, entre o bolsonarismo e o PT e Lula. A principal contradição brasileira é social, é a desigualdade e a concentração do poder, da renda, da riqueza e da propriedade.
A polarização é a arma da direita para estigmatizar e criminalizar não só o PT e a esquerda como a política e suas instituições, escondendo a verdadeira divisão de nosso Brasil, a vergonhosa e criminosa concentração de renda e a recusa e o abandono do pacto social e democrático de 1988, a renúncia à democracia, o apoio ao golpe parlamentar de 2016 e, agora, ao autoritarismo.
Para nós, o que conta é o povo como ator e agente político legítimo e majoritário, cujo apoio a centro-esquerda conquistou em quatro eleições presidenciais. Só reconquistando o apoio popular, que não fomos capazes de mobilizar, seremos vitoriosos e teremos condições reais de realizar as reformas adiadas.
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José Dirceu foi ministro chefe da Casa Civil do governo do presidente Lula. Atualmente vive em Brasília. Artigo publicado originalmente no site Metrópole


Eleições no Brasil, Voto Popular
FREI BETTO: Todos “candidatos de centro” são de direita. Defendem mesmas pautas de Bolsonaro

2022, um presidente de centro?
Frei Betto
Como no mar, toda onda começa pela sobreposição de gotas empurradas pelo vento. “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”, dizia Goebbels. É o que vimos nas eleições de 2018. Fake news em profusão e as tramoias da Lava-Jato impediram Lula de ser candidato e, ainda, suscitaram o moralismo antipetista. Nessa onda surfou Bolsonaro e arrebatou a faixa presidencial.
Dois anos de governo foram suficientes para o establishment se dar conta de que apostou suas fichas no cavalo errado. Nada neste governo dá certo, exceto as sucessivas obras de demolição da saúde, da educação, da cultura, dos direitos humanos, das políticas ambientais e da segurança pública. A pandemia ganhou, no Brasil, dimensão genocida; a economia retrocede; a inflação reaparece; o desemprego cresce; a desigualdade se agrava; e a violência explode.
O Brasil virou o patinho feio da conjuntura internacional. Alvo de chacotas e desprezo, a política exterior brasileira se atrelou ao trumpismo e, agora, órfã, está condenada a se apegar aos próprios fantasmas, da natureza comunista do coronavírus ao terraplanismo.
De olho nas eleições presidenciais de 2022, a elite brasileira afixa por toda parte o cartaz “Procura-se um candidato”. Até agora apenas dois se postulam com certeza, mas nenhum deles interessa aos donos e beneficiários do cassino financeiro: Bolsonaro e Ciro Gomes. Busca-se, então, um candidato “de centro”, para fugir aos “extremismos” do capitão e do peão (Lula).
Súbito, o centro se inflou de possíveis candidatos: Moro, Huck, Doria, Maia, e sabe-se lá quantos mais aparecerão para repetir o que, certa vez, me disse um arcebispo: “Não sou de esquerda nem de direita, sou do alto…”
Ora, todos os chamados “candidatos de centro” são, sem exceção, de direita. Defendem as mesmas pautas de Bolsonaro. Mudam apenas os métodos e a retórica. Todos naturalizam a desigualdade social e rejeitam uma reforma tributária que obrigue os ricos a pagar mais impostos. Todos defendem os privilégios do capital privado sobre os direitos coletivos. Todos são favoráveis à criminalização dos movimentos populares e aprovam a PEC que congelou por 20 anos os orçamentos da Saúde e da Educação. Todos apoiam políticas sociais paliativas e são contrários a qualquer reforma estrutural capaz de mudar este país para melhor, como a reforma agrária.
É hora de denunciar essa falácia! Para a elite, o ator principal desse governo exagera no desempenho ao ficar indiferente à pandemia, promover queimadas e desmatamento, fazer apologia da tortura e do livre comércio de armas. É preciso substituí-lo por alguém mais comedido, perfumado, dotado de bons modos. Alguém que efetive a privatização do patrimônio público e tenha mais habilidade na relação com o nosso maior parceiro comercial, a China.
Enfim, é preciso trocar o ator para que a encenação prossiga com o mesmo roteiro e assegure o final feliz do andar de cima, e as desgraças do andar de baixo. Como diz o personagem de Lampedusa, “é preciso mudar, para que tudo permaneça como está”.
Frei Betto é escritor, autor de “O diabo na corte – uma leitura crítica do Brasil atual” (Cortez), entre outros livros.
Livraria virtual: freibetto.org
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