Uma questão a respeito da filósofa Simone de Beauvoir causou polêmica no Enem 2015 (Foto: Reprodução)
Texto: Rafaela Marques, jornalista.
O que é feminismo?
Feminismo é um movimento social e político que tem como objetivo conquistar o acesso a direitos iguais entre homens e mulheres e que existe desde o século XIX.
Feminismo não é o contrário de machismo?
Não. Enquanto o feminismo busca construir condições de igualdade entre os gêneros, o machismo é o comportamento que coloca o homem em posição de superioridade com relação à mulher.
E por que, em vez de feminismo ou machismo, não falamos de humanismo?
Porque humanismo é um sistema filosófico de pensamento, não um movimento social ou político. O humanismo se refere à valorização do pensamento e da produção humana, em oposição à ideia de um ser sobrenatural que comanda o mundo.
E por que está todo mundo falando de feminismo agora?
Por vários motivos. Primeiro, porque já há algum tempo, as redes sociais tornaram possível que grupos de mulheres se encontrassem e falassem sobre como se sentem no mundo em que vivemos, dividindo questões como os assédios nas ruas, relatando estupros, situações de desvalorização no mercado de trabalho, etc. Esse novo impulso que o feminismo teve com as redes sociais já mostrou sua força em vários momentos, em especial na última semana, quando as mulheres reagiram ao caso MasterChef Junior com a campanha #primeiroassedio.
E o que rolou nessa campanha?
Na internet, homens adultos dirigiram comentários de cunho sexual a uma menina de 12 anos, participante do programa. Então, milhares de mulheres passaram a relatar publicamente a primeira vez que foram assediadas sexualmente e muitos casos envolviam algum tipo de violência: estupro, pedofilia, constrangimentos.
E sobre o ENEM? Ouvi dizer que a prova foi feminista…
A proposta de redação do Exame Nacional do Ensino Médio, que dá acesso às universidades públicas do país, era que os candidatos e as candidatas escrevessem sobre “a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. Outra questão, sobre Simone de Beauvoir, citava uma frase famosa da autora: “ninguém nasce mulher, torna-se” e pedia que a resposta apontasse para qual movimento social o pensamento de Beauvoir contribuiu. A resposta correta era a “organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero”. A prova não se posicionava contra ou a favor do feminismo, apenas pedia que os alunos tivessem conhecimento sobre o que é esse movimento.
Mas se as mulheres já podem votar, já podem ir para o mercado de trabalho, os direitos já não são iguais? O que mais as feministas querem?
As feministas querem o fim da violência de gênero – no Brasil, a cada 12 segundos uma mulher é violentada, de acordo com uma pesquisa da Secretaria de Políticas para Mulheres do Governo Federal, a cada 10 minutos, uma mulher é estuprada, de acordo com o Mapa da Violência, e a cada 90 minutos uma mulher é assassinada, de acordo com o IPEA. Todas essas violências estão relacionadas à questão de gênero – são casos que durante muito tempo foram chamados de “passionais”, são casos que acontecem dentro de casa, no seio familiar, e que se diferem da violência que atingem os homens, que morrem por diversos motivos, mas nunca por serem homens. No Brasil, as mulheres ainda ganham em média 30% a menos do que os homens para exercer a mesma função, de acordo com uma pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Mulheres também são maioria no trabalho doméstico, acumulando funções dentro e fora de casa. São as maiores vítimas de assédio sexual no trabalho, normalmente cometido por homens em situação de hierarquia superior. Enfim, por vários motivos, ainda há muito o que conquistar em termos de direitos.
Feministas são contra a família, o casamento, e se recusam a ter filhos?
Isto não é verdade. É apenas um mito criado em torno da luta dessas mulheres. Feministas são a favor da escolha da mulher, isto é – que a mulher case apenas quando e se quiser casar, que tenha filhos apenas quando e se quiser tê-los e que seja livre para fazer essas escolhas, não sendo julgada se não quiser fazê-las.
Feministas são a favor do aborto?
Como dito acima, feministas são a favor da escolha da mulher. Elas não querem que o Estado crie leis para determinar como elas devem agir com relação ao próprio corpo. Isso quer dizer que elas rejeitam a ideia de que o Estado deva proibir o aborto por lei, mas permitir que, em caso de gravidez indesejada, a mulher possa escolher livremente se deseja ou não interromper a gravidez, oferecendo a ela a assistência de saúde necessária para que possa fazer isto em segurança, sem comprometer a própria saúde.
Mas e se todo mundo começar a fazer aborto? Onde vamos parar?
Bom, feministas não querem que todo mundo comece a fazer aborto. Elas querem que ele seja regulamentado e tratado como uma questão de saúde, não criminal, para que mulheres que se sentem em situação de vulnerabilidade e desejam recorrer ao aborto recebam atendimento psicológico, médico, remédios e acompanhamento de saúde. Países como EUA e França preveem a possibilidade de interrupção da gravidez, e, no Uruguai, depois da legalização, o número de abortos caiu, talvez exatamente porque ao receber apoio, a mulher se sente encorajada a levar a gravidez até o fim, porque sabe que há uma rede de assistência com a qual poderá contar. Depois da legalização, o Uruguai também não registrou mais casos de morte de mulheres durante o aborto – porque essas mulheres deixaram de recorrer a clínicas clandestinas e passaram a contar com atendimento médico. Enquanto isso, a cada dois dias uma brasileira, em geral das classes mais baixas, morre vítima de um aborto mal realizado.
Gente como a gente
Feministas são contra a família? Isto não é verdade
Gente como a gente
O que é feminismo?
Gente como a gente
HENRIQUE FONTANA: Lula, 75 anos
Lula, 75 anos
Por Henrique Fontana
A data em que Lula completa 75 anos nos permite ao mesmo tempo cumprimentar esse grande brasileiro e rememorar sua extraordinária trajetória como personalidade política e como ser humano. Lula foi o grande expoente de uma geração de sindicalistas que livrou os trabalhadores brasileiros das amarras impostas pela ditadura militar, que proibia as greves e perseguia as principais lideranças. Foi ele, o torneiro mecânico vindo ainda criança de Garanhuns (PE) com a mãe e os irmãos a bordo de um caminhão pau de arara, o mais visado pela repressão. Preso, processado pela Lei de Segurança Nacional por liderar uma greve no ABC paulista, Lula compreendeu a importância da luta política e inspirou a criação do Partido dos Trabalhadores, ao lado de companheiros sindicalistas, intelectuais, estudantes e militantes das comunidades de base.
Em sua caminhada, Lula agregou à capacidade de liderança o aprendizado da realidade brasileira, o conhecimento sobre as profundas desigualdades sociais presentes em todos os aspectos da realidade nacional, e teve sabedoria para enfrentá-las quando assumiu a presidência da República. Em oito anos, mudou profundamente o Brasil.
Através de programas de distribuição de renda, assentados no Bolsa Família, na valorização do salário-mínimo e no enfrentamento ao desemprego pelo incentivo à indústria nacional e fortalecimento do mercado interno, o Governo de Lula tirou o país do mapa da fome e livrou o país da dependência externa ao afirmar uma política externa altiva e democrática. Após dois mandatos, deixou o cargo com 82% de aprovação popular.
Este projeto, que teve continuidade nos governos da presidenta Dilma, foi brutalmente interrompido pelo golpe de 2016, o que provocou um rápido e cruel retrocesso nas importantes conquistas obtidas pelo povo brasileiro desde a posse de Lula. Enquanto Dilma era afastada da Presidência da República em um processo de impeachment absolutamente extemporâneo, Lula passava a sofrer uma perseguição perversa nunca vista no país, que culminou com uma condenação sem provas, em uma ação judicial comandada pelo então juiz Sergio Moro, cujas obscuras motivações ficariam aplastadas no momento em que ele aceitou ser ministro de Jair Bolsonaro.
Lula permaneceu preso injustamente duramente 580 dias, assistimos ao desmonte do país.
O Brasil sob Bolsonaro é a antítese do país governado por Lula e Dilma. Na época, chegara-se a uma situação praticamente de pleno emprego. Hoje, batemos o recorde de desemprego e subemprego. A indústria naval que gerava postos de trabalho e autonomia foi destruída. As empresas estratégicas, fortalecidas no período anterior, são esquartejadas e vendidas a troco de banana, no projeto ultraliberal vigente que produziu também uma reforma da Previdência Social que condenada as próximas gerações à pobreza. As queimadas consomem áreas significativas da Amazônia e, agora, do Pantanal, ante o descaso do governo.
Logo após o impeachment de Dilma, a primeira medida do governo tampão de Temer foi congelar os investimentos em saúde e educação. E esse projeto é seguido à risca pelo Governo Bolsonaro, como podemos ver pela atuação pífia no combate à pandemia. Quantas mortes seriam evitadas se tivéssemos um governo realmente preocupado com a saúde dos brasileiros.
Para completar, o Brasil está de volta ao mapa da fome, e este é o símbolo do fracasso deste processo neoliberal voltado à brutal concentração de renda sustentado pelo empobrecimento da grande maioria do povo.
O presidente Lula mostrou que o Brasil pode dar certo se tiver um governo que coloque os interesses de seu povo acima de tudo. Felizmente, o presidente Lula superou a perseguição inominável de que foi vítima e sobreviveu às tragédias pessoais que se abateram sobre sua família. O Brasil precisa de Lula nesse momento tão dramático da vida nacional.
A cada semana, caem por terra as acusações contra Lula, inocentado por tribunais fora da esfera de influência da Lava Jato. A consciência nacional espera que o Supremo Tribunal Federal decida pela suspeição de Sergio Moro e anule as condenações sofridas pelo ex-presidente. Lula será fundamental para o necessário processo de repactuação democrática do país ante o desastroso governo Bolsonaro. Por isso e por suas enormes qualidades políticas e pessoais, neste abraço de felicitações pelos 75 anos de vida e de luta do presidente Lula, nos conforta e nos anima saber que podemos contar com a sua liderança, a sua lucidez e seu profundo amor pelo povo brasileiro.
HENRIQUE FONTANA, médico, é deputado federal pelo PT-RS
-
ENTRETENIMENTO2 anos atrás
Ex-empresária de Britney Spears é acusada de envolvimento em tutela
-
ENTRETENIMENTO2 anos atrás
“Depois de idosa, me descobriram”, diz Zezé Motta após gravar campanha
-
Humor nacional1 ano atrás
O cartunista Benett e o poder no Congresso
-
O melhor detergente é a luz do sol2 anos atrás
CIDADANIA: 1º Mutirão de Retificação de Nome e Gênero de Pessoas Trans em documentos ocorrerá neste sábado, dia 28 de maio, em Cuiabá
-
ENTRETENIMENTO2 anos atrás
David Harbour diz ter passado fome em preparação de ‘Stranger Things’
-
Deliciosos sabores3 anos atrás
Sequilhos de maionese
-
Destaque especial3 anos atrás
João Doria assume compromisso de defesa da comunidade LGBTQIA+ se for presidente do Brasil
-
Destaque especial2 anos atrás
A Tabacaria, poema de Fernando Pessoa, na interpretação do saudoso ator Antônio Abujamra
Você precisa estar logado para postar um comentário Login