Imprensa em debate
Zé Pedro suspende propaganda do Governo na Globo
Imprensa em debate

Zé Pedro Taques, governador, sorrindo e Zilmar Melatti, da TVCA, lendo a revista do jornalista Eduardo Gomes
Divulgo uma versão estendida do artigo que circulou nesta terça, na edição impressa do DC:
Zé Pedro Taques e a Globo
POR ENOCK CAVALCANTI
NO DIÁRIO DE CUIABÁ
Meus amigos, meus inimigos: está suspensa a propaganda do Governo do Estado de Mato Grosso na afiliada da Rede Globo em nosso Estado, a TV Centro América, também conhecida como “a poderosa”. A decisão foi do próprio governador Zé Pedro Taques que não gostou do trato que recebeu do diretor da emissora, o sr. Zilmar Melatti.
Imaginem: o sr. Melatti teria ido ao gabinete do Zé Pedro Taques para determinar o quanto a TV Centro América deveria receber em propaganda oficial. Por que cargas d`água o sr. Melatti agiu assim?
Ora, todo mundo sabe que o poder neste País está com a Rede Globo. Não existem partidos, Ministério Público, juízes, poderes. O poder de fato pertence à mídia, já faz muito tempo, à mídia que molda cabeças e corações, desde os tempos em que Carlos Lacerda fazia suas provocações neste Brasil. E a força, dentro da mídia, quem tem, neste século 21, pós-Lacerda, pós-golpe militar de 64, são os herdeiros de Roberto Marinho, os bilionários da Globo, que, claro, espalharam seus lugares tenentes por todos os cantos.
O sr. Melatti seria um deles. Como homem da Globo em Mato Grosso, chancelado pela rede nacional e também por seus patrões mais imediatos da família Zahran, imagino que o sr. Melatti se sinta uma pessoa ungida pela sorte. E efetivamente ele é, já que detém o poder global e, como tal, é um dos que, nesta terra, reina sobre nós, meros mortais.
A história nos mostra que foi assim com Dante de Oliveira, Jaime Campos, Blairo Maggi, Silval Barbosa. Todos governadores, e também muitos e muitos prefeitos, sempre fizeram vênia para o poder da Globo. Na verdade, o único poder que rivaliza com o poder do Melatti e dos Zahrans, aqui, é o poder do Dorileo Leal e do Grupo Gazeta.
Assembleia, governo, Judiciário, tudo isso, diante da mídia, é acessório, mero cenário. Mas voltando ao encontro no Paiaguás. Alguém me disse que a pedida mensal do sr. Melatti teria chegado na casa dos R$ 2 milhões de reais. Digamos que ele tenha pedido, de fato, dois milhões. Só o governador pode nos confirmar, o Zé Pedro que diz ser o rei da transparência. Será que ele vai tomar a iniciativa de falar publicamente sobre o caso? Ou terá que ser acicatado por um repórter mais eficiente, durante uma coletiva?
O sr. Melatti bebeu o cafezinho cerimonial, talvez tenha tomado um guaraná ralado, depois tirou do bolso uma planilha e pode ter dito pro Zé Pedro: nossa cota vai ser essa. Imagino que, para a Globo, que sempre prepara planilhas super-coloridas para encher os olhos de seus clientes, a verba governamental destinada à própria Globo, deve ser tão carimbada como as verbas para a Saúde e Educação que tem dotação orçamentária fixada pela Constituição.
Só que parece que o sr. Melatti encontrou Zé Pedro num daqueles dias. Estava de ovo virado, desde que, numa entrevista na TVCA, o repórter passou o programa inteiro atribuindo a ele obras paradas e outra série de danações que são heranças do governo anterior, do PMDB-PR-PT. Quem é que não sabe que Zé Pedro é daqueles que não gosta de ser questionado?
Resumindo: Zé Pedro disse que não ia pagar, desafinando o coro dos governadores, através dos anos. O sr. Melatti teria arregalado os olhos. Mesmo baixinho como um pigmeu, o governador teria erguido seu dedo e mandado o homem da Globo dar o pira. Dar o pira, vejam só – expressão que, de repente, lembrei e veio lá da minha infância.
A versão mais melodramática diz que o sr. Melatti saiu batendo a porta e declarando guerra. Ora, lá do Paiaguás o governador também trovejou: se a Globo queria 2 milhões, não iria receber sequer os 800 mil que ele mandara o Jean Campos lhe repassar. Corta, corta esse repasse! A guerra foi, de fato, declarada. Com bombardeio dos dois lados.
A prefeitura de Cuiabá, com Mauro Mendes, e a Assembleia, com Guilherme Maluf, também estariam sendo mobilizadas por Zé Pedro Taques para esta batalha contra a Globo mato-grossense. A julgar pelos poderes envolvidos, podemos ter, em Mato Grosso, neste ano de 2015, uma guerra mais virulenta que a Guerra do Paraguai.
Até eu, que não sou de entusiasmar-me com Zé Pedro Taques, gostaria que a querida presidenta Dilma prestasse atenção no governador de Mato Grosso. Esse pequeno homem, ao se dispor a enfrentar a Globo – coisa que a Dilma, coitada, não soube fazer até agora – , pode fazer história. Sim, a história que, muitas vezes, se escreve por linhas tortas.
ENOCK CAVALCANTI, jornalista, é editor de Cultura do Diário de Cuiabá e blogueiro titular desta PAGINA DO E. Artigo publicado, originalmente, no Diário de Cuiabá.


Brasil, mostra tua cara
DEU NA VEJA: As revelações do livro de Eduardo Cunha sobre bastidores do golpe conta Dilma

JANUARY 21, 2021

Na antevéspera do feriado de Nossa Senhora Aparecida, em 2015, uma reunião secreta na sala do apartamento do deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), no 9º andar de um prédio de luxo de frente para a praia de São Conrado, na Zona Sul do Rio de Janeiro, definiu os rumos da história recente do país. Na manhã daquele sábado ensolarado, quatro políticos — além do anfitrião Maia, o então poderosíssimo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Carlos Sampaio, à época líder do PSDB na Casa, e o também tucano Bruno Araújo, o atual presidente nacional da legenda — acertaram como encaminhariam os procedimentos que resultaram, dez meses depois, no impeachment da presidente Dilma Rousseff. Os detalhes da trama desenhada pelo quarteto, em meio a goles de café e água, estão no livro-bomba Tchau Querida, o Diário do Impeachment, de 740 páginas, escrito por Cunha, hoje um político em desgraça, cassado, condenado a catorze anos e seis meses de cadeia e cumprindo prisão domiciliar. VEJA teve acesso a trechos do livro do ex-deputado, que acaba de fechar contrato de publicação com a editora Matrix, com lançamento previsto para abril.

Na narrativa em primeira pessoa, escrita em parceria com a filha mais velha, Danielle, Eduardo Cunha, de 62 anos, reconstitui as articulações nos bastidores para o afastamento definitivo de Dilma na época em que, graças a uma intrincada rede de troca de favores, tinha na palma da mão os rumos das votações na Câmara. Uma de suas revelações se refere ao papel, que ele afirma ter sido decisivo e francamente oportunista, do então vice-presidente Michel Temer. “Não foi apenas o destino ou a previsão constitucional que fizeram Michel Temer presidente da República. Ele simplesmente quis e disputou a Presidência de forma indireta. Ele fez a ‘escolha’ ”, relata Cunha. “Foi, sim, o militante mais atuante. Sem ele, não teria havido impeachment”, garante.
Em seus cinquenta capítulos, o livro aborda decisões do Supremo Tribunal Federal e brigas jurídicas com o PT ao longo da batalha do impeachment. Tomando por base observações de difícil confirmação, por serem tiradas de conchavos que não vinham a público, Cunha descreve, com críticas a ex-aliados, as reuniões, jantares e conversas de que participou nos bastidores de Brasília, na busca de votos para abrir o processo. A certa altura, as rajadas de sua magoada metralhadora giratória apontam para Maia, que ocuparia seu cargo no comando da Câmara: “Não tinha limites para a sua ambição e vaidade. Na busca pelo protagonismo, Rodrigo Maia quis forçar ser o relator da Comissão Especial de Impeachment. Eu tive de vetar”. No seu julgamento, o DEM não tinha a força política necessária.

Em outro momento, entra na mira o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), por sua vez, candidato agora de Maia e do PT à mesma presidência da Câmara. Segundo Cunha, Rossi fez parte do grupo que articulou contra Dilma, embora tivesse, ele próprio, contas a prestar. “A empresa Ilha Produção Ltda., pertencente ao irmão de Baleia e a sua mulher, recebeu nas campanhas eleitorais de 2010, 2012 e 2014 milhões de reais em pagamentos oficiais e caixa dois, inclusive da Odebrecht”, afirma Cunha. Procurados por VEJA, Maia, Temer e Rossi infelizmente não comentaram as afirmações que, ressalte-se, são apenas a versão de Cunha. O presidente Jair Bolsonaro também é citado na obra. “O primeiro pedido de impeachment coube ao então deputado (…), em função das denúncias de corrupção na Petrobras. Eu rejeitei o seu pedido. De todos os pedidos por mim rejeitados, Bolsonaro foi o único que recorreu”, relata.
Após a saída de Dilma, Cunha caiu rapidamente em desgraça. Em setembro de 2016, um mês depois do impeachment, ele foi cassado por quebra de decoro, ao mentir sobre a existência de contas na Suíça. Em outubro, pego pela Operação Lava-Jato, foi parar na cadeia por corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Condenado, cumpriu três anos e cinco meses em regime fechado em três locais: na sede da Polícia Federal, em Curitiba, no Complexo Médico-Penal do Paraná e, por último, em Bangu 8, no Rio. No ano passado, por estar no grupo de risco da pandemia, obteve o direito de cumprir a pena em casa, em um condomínio na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Lá, mora com a mulher, a jornalista Cláudia Cruz, e recebe familiares e visitas que ainda o chamam de “presidente”. A título de moral da história, seu livro lembra a participação do PT no processo de impeachment de Fernando Collor, em 1992, para proclamar: “Quem com golpe fere, com golpe será ferido”.
Publicado em VEJA de 27 de janeiro de 2021, edição nº 2722
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