Titãs em Cuiabá: a lenda viva do rock e o ‘fora Dilma’ que não pegou
Valeu a pena o show em Cuiabá! Pra quem não sabe o Titãs se apresentou na capital mato-grossense, no último sábado. A banda escolheu repertório quase retrô, relembrando os velhos tempos de rock, anos 80. A exceção foi duas ou três músicas da fase comercial/pop da banda (anos 90 e início dos anos dois mil).
Quem foi pôde presenciar um mito do rock nacional. Som de altíssima qualidade.
Esquisito foi o público, que mais parecia ir a um teatro do que show de rock: Poucos jovens; mulheres de salto alto e vestidos com apetrechos e renda; homens com sapato social lustrado e camisa de gola polo.
Não. Nada de vestimentas alternativas, característicos do público rock. Aquele estilo de contestação, ali não existia.
O local do show e os ingressos explicam tudo. O evento ocorreu na MUSIVA e os ingressos iam de R$ 100,00 a 1.000,00! Por isso a plateia era formada majoritariamente de classe média e elite.
Nada haver com rock, que traz em seu espírito a rebeldia.
Mas como o momento político e econômico é turbulento, não seria de espantar se essa conjuntura se manifestasse ali de alguma forma. E foi.
Quase no fim do espetáculo surge um coro do camarote que tenta ecoar pelo salão: “Ei, Dilma, vai tomar no c#”. O grito não pegou, ficou só no camarote com meia dúzia gritando. Pouco antes, o Titãs havia tocado a música ‘Fardado’, lançado em 2014 e inspirada nas jornadas de junho de 2013, quando milhares saíram às ruas por saúde, transporte e educação, enfrentando a repressão dos ‘fardados’.
A música dizia:
“Você também é explorado, Fardado! Você também é explorado, Aqui! Por que você não abaixa essa arma, o meu direito é seu dever. Por que você não usa essa farda, pra servir e pra proteger”.
Quando os Titãs anunciaram o encerramento do show, decidiram voltar após uma pequena pausa (o retorno faz parte da programação, mas a bronca que viria não). Paulo Miklos pega o microfone e dá o recado: “decidimos tocar essa música de 87, por que ela está muito atual”. A música anunciada era “desordem”, composição feita em momento político de greves gerais pelo país e luta contra a Ditadura Militar.
Um trecho da música dizia:
“É seu dever manter a ordem? É seu dever de cidadão? Mas o que é criar desordem, quem é que diz o que é ou não? São sempre os mesmos governantes, os mesmos que lucraram antes. Os sindicatos fazem greve porque ninguém é consultado, pois tudo tem que virar óleo pra por na máquina do estado. Quem quer manter a ordem? Quem quer criar desordem?”.
Mas o grupinho do camarote parecia não ter entendido o recado, e, após a música, tentam puxar mais um grito de fora Dilma. Novamente sem sucesso, o coro não ecoou pelo salão. Mas Paulo Miklos decide desta vez desabafar no microfone: “vamos manter a ordem democrática! Lutamos por isso, democracia acima de tudo!”. Calando de vez o cantinho do camarote, certamente povoado por parte da elite cuiabana.
Quem quer manter a ordem? Quem quer criar desordem?”.
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Fábio Ramirez, 32 anos, é trabalhador técnico-administrativo da Universidade Federal de Mato Grosso. Foi dirigente estudantil do Centro Acadêmico de Educação Física da UFMT nos anos de 2003, 2004, e 2005; Dirigente do Diretório Central dos Estudantes da UFMT em 2004, 2006 e 2007; membro da Executiva da União Estadual dos Estudantes em 2005 e 2006; e integrante da luta que garantiu o Passe-Livre Estudantil em Cuiabá/MT. É comunista e militante da Esquerda Marxista.
A única ordem que a esquerda quer manter é o “Status quo” atual, ou seja, os militontos não querem o impeachiment da incompetenta, e insistem em defender o indefensável.
Os “cumpanherus” querem mesmo é defender a órdem instituida, a mesma que levou ao petrolão, mensalão, eletrolou e luta desesperadamente para mante-los.
Por que será que há tanta gente contra a queda de quem que de tão podre já deveria ter caído há muito tempo.