Antes Arte do Nunca
GIBRAN LACHOWSKI: Rap coloca o jovem de periferia no centro da cena
Antes Arte do Nunca
Gibran (no centro) com o pessoal do rap de Cuiabá
O jovem de periferia no centro da cena
Por Gibran Luis Lachowski
O jovem de periferia é o centro da cena para os rappers de Cuiabá, o que se repete em grande dimensão no Brasil e no mundo. Enxergam-no em constante disputa pelas igrejas, pelo Estado, pelo tráfico de drogas e armas, pelo mercado capitalista, pela arte, pelos movimentos… e por isto também entram na briga. Afinal, a maioria dos rappers é da “quebrada” e sente na alma o compromisso em resgatar o jovem de periferia ou apontar-lhe um caminho de luz e prosperidade.
Isso tem a ver com a história do rap, expressão político-cultural crítica ao sistema capitalista e com forte presença da população negra, iniciada nos anos 60 na Jamaica e popularizada nos Estados Unidos em seguida, também com forte repercussão no Brasil a partir dos anos 80.
É o que aponta o livro Rap, rappers e juventude de periferia: Legitimidade social e múltiplos sentidos, de minha autoria e lançado nesta semana na UFMT/Cuiabá durante o SemiEdu (Seminário de Educação), em atividade coletiva, com outros e outras autoras.
A obra concentra-se nas vozes de rappers de Cuiabá e, também, Várzea Grande, o que foi captado a partir de entrevistas, conversas, acompanhamento de shows, análise de material veiculado pelas mídias comunitária/alternativa e comercial e pela leitura de letras de rap. Os dados foram coletados até 2008 e constituem-se num documento histórico do rap local, com suas variantes gangsta, de curtição, gospel e underground.
Os rappers mencionados e/ou ouvidos continuam ligados ao rap. Estão na lida como organizadores ou produtores de eventos e de música, cantores, professores, entre outras profissões.
São eles: Cezza (Cesar Mendes); Mano Careca (Luis Carlos Gomes), Paulo X (Paulo Henrique Lopes), Linha Dura (Paulo Ávila), P. Brother (Paulo César da Silva), Mano Rap (Adriano Monteiro), Rei Rapper (Reinaldo de Souza), Vulgo Bill (Alexandre da Silva Souza),Taba (Adnilson da Silva Lara) e o grupo Atos 29 (Ronaldo Sampaio e os irmãos Clodoaldo e Arnaldo Barros).
O livro é dividido em três capítulos. O primeiro trata de requisitos básicos para ser rapper, como autenticidade, legitimidade, sofrimento socioeconômico e racial, localidade e vida cotidiana. O segundo, e central, se refere a como os rappers enxergam os jovens de periferia, oscilando do “jovem invisível”, passando pelo “jovem semimorto”, até o “jovem à procura de saídas”, levando em conta o rap enquanto missão, compromisso social, arte, carreira profissional, memória negra…
Já o terceiro capítulo faz o inverso: mostra como os jovens de periferia enxergam os rappers, pois não são meros expectadores, mas, sim, seres inteligentes, críticos, que acompanham aqueles que postulam a condição de porta-vozes da comunidade.
O livro se vale de ativistas nacionais do rap, como MV Bill, Mano Brown, Celso Athayde e Rappin’Hood, pesquisadores brasileiros e estrangeiros da Educação, Juventude, Hip Hop, Cultura Popular, Ciências da Comunicação etc para contribuir com as análises e atuações dos rappers locais.
Entre eles estão Maria Aparecida Morgado, Elaine Nunes de Andrade, Néstor Canclini, Martín-Barbero, Michel de Certeau, Micael Herschmann, Maria Eduarda Araújo Guimarães e Luiz Eduardo Soares.
O livro se encerra com uma sessão de letras dos rappers atuantes em Cuiabá e Várzea Grande e um glossário com a definição de termos próprios do universo hip hop.
“Rap, rappers e juventude de periferia” pode ser adquirido pelo site da editora Appris (www.editoraappris.com.br), que em breve colocará a obra em seu catálogo de vendas, e em contato direto comigo, pelo 66 99612-5018 (telefone e whatsapp).
Gibran Luis Lachowski, jornalista, professor universitário, pesquisador de cultura popular e assessor regional das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da igreja católica em MT
A verdade vos libertará
LEANDRO KARNAL: Livro é um presente permanente. Ler é esperança, sempre
Uma ponte de livros
Por Leandro Karnal
Sim! Você sobreviveu até a penúltima semana de 2020. Parabéns! Eu sei que os pessimistas estão dizendo: ainda faltam vários dias. É verdade. Seria tão injusto falhar agora! Viemos nadando com desafios desde março. A outra margem do rio está tão próxima. Sejamos otimistas: chegaremos todos a 2021.
Há uma possível pausa pela frente. Em algum momento você terá um pouco mais de folga. Chegou a hora de pensar estrategicamente: livros. Por quê? Não sei o que nos aguarda no ano próximo e novo. Sei que ele será mais bem vivido se houver mais pensamentos, maior conhecimento, mais informações. Atrás de sugestões para ter ou presentear? Farei algumas. Lembre-se sempre: um livro é um presente permanente que pode mudar a cabeça do agraciado.
Literatura? É o ano do centenário de nascimento de Clarice Lispector. A editora Rocco lançou um volume alentado e lindo com Todas as Cartas. É a correspondência da nossa maior escritora em um tomo que “fica sozinho em pé”. A leitura me trouxe um enorme prazer. Se o gênero correspondência não faz sua cabeça, mergulhe nos volumes da mesma editora com várias obras de Clarice: A Maçã no Escuro, A Legião Estrangeira, Onde Estivestes de Noite, O Lustre, Perto do Coração Selvagem, Felicidade Clandestina e A Bela e a Fera. São apenas alguns dos títulos lindos, com capas sedutoras e textos que vão alterar seu mundo.
Quer reencontrar outros clássicos? A Cia das Letras lançou Ressurreição, de L. Tolstoi. A luta de um nobre para reparar um erro grave do passado é o eixo daquele que, para mim, é uma das melhores obras do russo genial. Se Tolstoi o atrai, a editora Todavia reuniu 4 obras dele (Felicidade Conjugal, A Morte de Ivan Ilitch, Sonata a Kreutzer e Padre Siérgui) em um único volume.
Você sobreviveu a uma das mais transformadoras epidemias na história. Que tal ler A História das Epidemias, de Stefan Cunha Ujvari? Saiu pela editora Contexto. Aprende-se muito com o livro, bem escrito e solidamente pesquisado. Prefere o terreno argiloso da política e da sociedade? A pesquisa de Bruno Paes Manso resultou no necessário A República das Milícias. O livro proporciona análises indispensáveis e medos incontornáveis.
Você prefere algo que o anime? Pedro Salomão lançou o Valor Presente – A Estranha Capacidade de Vivermos um Dia de Cada Vez pela Best Business. Tive o privilégio de fazer o prefácio. Na mesma linha, uma coletânea com textos exemplares de Mario Sergio Cortella: Sabedorias para Partilhar, da Vozes/Nobilis.
Quer discutir amor e casamento? Não perca Amor na Vitrine – Um Olhar Sobre as Relações Amorosas Contemporâneas, de Regina Navarro Lins. A psicanalista vai mexer com suas convicções tradicionalistas e desafiar seus censores invisíveis.
Eduardo Giannetti sempre faz pensar. Li com avidez O Anel de Giges, da Cia das Letras. Tomando a lenda platônica do anel que produz invisibilidade, o que restaria da ética? Um homem invisível precisa se manter com boas regras morais ou vai acabar se entregando a seus desejos e caprichos menos nobres de espírito? Foi a leitura que mais me provocou inquietações no ano de 2020. É genial a capacidade de Gianetti de combinar densidade com linguagem leve.
Você ou o seu amigo-secreto amam viajar? Guilherme Canever lançou dois tomos pela Pulp: Destinos Invisíveis – Uma Nova Aventura pela África e Uma Viagem Pelos Países Que Não Existem. Livros densamente ilustrados, com um olhar agudo para lugares inusitados.
A Autêntica vai fundo na alma humana ao lançar uma nova edição do Além do Princípio do Prazer. O livro chegou ao centenário agora e a cuidadosa tradução de Maria Rita Salzano Moraes ajuda a valorizar a obra fundamental do dr. Freud.
Foi um ano estressante, reconheçamos. Talvez seja hora de pensar em um texto sobre ansiedade e o desafio da saúde mental. O dr. Leandro Teles, pela editora Alaúde, lançou Os Novos Desafios do Cérebro – Tudo o Que Você Precisa Saber Para Cuidar da Saúde Mental nos Tempos Modernos. Acho que a grande meta de 2021 é o desafio do equilíbrio. O livro do dr. Teles ajuda muito.
Você ama narrativas biográficas? A obra de Adam Zamoyski (Napoleão – O Homem Por Trás do Mito – ed. Crítica) prenderá sua atenção do início ao fim. O imperador raramente encontrou um biógrafo tão denso e sem lados definidos: sem o sempre esperado “monstro corso” (contra) ou gênio militar e político (a favor). Continua interessado em narrativas biográficas e domina inglês? Hildegard of Bingen – The Woman of Her Age, de Fiona Maddocks (Image Books), foi uma descoberta muito feliz. A entrevista final com a Sister Ancilla no mesmo mosteiro onde morou a santa medieval é um recurso muito interessante para iluminar a tradição da grande doutora da Igreja.
Anseia explorar uma área nem sempre devidamente destacada? Aventure-se pela obra A Razão Africana – Breve História do Pensamento Africano Contemporâneo (Muryatan S. Barbosa – Todavia). O Racismo Estrutural, obra crítica de Silvio de Almeida (editora Jandaíra), ajuda em um tema que foi destaque em 2020. Na mesma coleção, a coordenadora da série, Djamila Ribeiro, tem texto indispensável: Lugar de Fala. Você se preocupa com o universo feminino e suas muitas abordagens? Mary del Priore escreveu Sobreviventes e Guerreiras: Uma Breve História da Mulher no Brasil de 1500 a 2000 (editora Planeta). 2021 demandará consciência social. Prepare-se!
Muitos e bons livros para todos os gostos. Ler dá perspectiva, vocabulário, ideias e companhia. Um bom texto aumenta seu mundo e o faz sair do senso comum. Embeber-se em histórias é viver de forma ampla. Já é um bom projeto para 2021. Ler é esperança, sempre.
Leandro Karnal é historiador e escritor, autor de ‘O dilema do porco-espinho’, entre outros. Artigo publicado originalmente no jornal O Estado de S Paulo
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