
Gonçalo Antunes de Barros Neto, juiz de Direito em Cuiabá, Mato Grosso, conhecido pelos amigos como Saíto
Caminhando e cantando, as flores estão alegres
GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO – SAÍTO
Entramos em 2014 com uma certeza, será um ano de muitos questionamentos sociais. Num ano eleitoral permeado por Copa do Mundo, denúncias, dossiês e eclosões associativas, com a sociedade historiando seu destino em tempo real, conectada, o caldo será de pouca calmaria. As águas se turvarão. Começamos com o movimento denominado “rolezinhos”. Terminaremos sabe lá como, rogamos que seja com um (ou uma) presidente legitimamente eleito (a), mantendo-se incólume o processo eleitoral democrático.
Os movimentos sociais preparam uma grande batalha, os sindicatos, os sem terra, os sem teto, e mais os sem tudo, se voltarão e encontrarão no grito, há certo tempo abafado, a expressão de suas certezas. A classe média, mais uma vez, será chamada para vê, e não para crê, somente, mas para dar seu testemunho, direção a um sentimento que se agiganta nas ruas. Nunca o país precisou tanto de seus teóricos como agora. O dar sentido a algo crescente já tarda de tempo.
A história costuma ser implacável com aqueles que surfam na onda dos acontecimentos, sem apreendê-los pela consciência crítica. Winston Churchill quase pôs à prova a aliança contra o eixo na Segunda Guerra Mundial quando mandou bombardear a frota francesa no norte da África, temeroso que caísse em mãos alemãs. E a água, de turva, só não enlameou de vez em razão de Hitler ter ordenado, na sequencia, o ataque ao sul da França. Errou também, e os aliados puderam contar novamente com os franceses.
A ofensiva por aqui e em nosso tempo é de dimensão bem menor. O que há a ser considerado é que não existe inimigo no horizonte e que se possa segurar aos safanões, bem ao temperamento dos que sempre utilizaram das forças de poder para mantença dos próprios privilégios. O que se tem é uma ideia, ou várias, capitaneada por um forte sentimento de contestação. É preciso desvendá-lo, teorizar sobre ele, conhecer suas nuances e agir com precisão científica, senão…
Pobre de um país que não honra seus pensadores. São imprescindíveis no gerenciamento de crises político-sociais. É preciso dar identidade aos jovens, segurança e vazão para a energia que carregam. Não lhes oculte da singular natureza. A explosão, no derradeiro, é incalculável. Perguntar-lhes com simplicidade e clareza – o que querem?- é começo, parte, portanto, da solução. Não se utilize da arrogância, do despreparo, isso que aí se agiganta exige mentes calejadas. E a temos, com certeza. Platão implorou pelo Estado comandado por sábios. Não se vai a tanto, basta colocá-los em alerta.
Lembro-me do conselho paterno, se ganhou a briga, por que humilhar o adversário? E parece que vale para os de agora privilegiados. Não fizeram a necessária leitura dos acontecimentos do século XVIII, lá na Revolução Francesa. A decapitação é o caminho do luxo, da falta de senso humanitário, da indiferença. Ensinou-se o chique, a moda, as marcas, a vaidade, a ostentação. Agora, não mais se intimidam, negam-se a aceitar a Casa Grande e sua metáfora. Querem ser iguais, felizes com o padrão que aprenderam.
Daqui, do meu ninho que penso indevassável, busco não perder a paz. A garotada a quer. Somente isso. É por aí…
GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO – SAÍTO, é Juiz de Direito em Cuiabá, Mato Grosso, e escreve aos domingos em A Gazeta (e-mail: antunesdebarros@hotmail.com).
Dito certo popular… está morto deixa urubu comer… mas o ser humana por natureza gosta de humilhar, guspir, pisar, patrolar deixa prá lá….
Antes a preocupação dos democratas era impedir que um cidadão que cometesse um crime recebesse a pecha de inimigo da sociedade. deve-se punir o fato, não demonizar o autor, que deve ser ressocializado. a coisa piorou: hoje, o direito penal do inimigo já elege o inimigo sem mesmo identificar o crime….
Os ricos já são vencedores, mas não contentam. A vocação capitalista, para cumprir sua saga, precisa humilhar os pobres.